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Onda de violência: ONU cita “sinais de alerta” na República Centro-Africana

Onda de violência: ONU cita “sinais de alerta” na República Centro-Africana

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Mais de 100 pessoas morreram em duas semanas no país; vice-chefe dos Direitos Humanos fala de “alianças confusas” e “ataques atrozes contra civis”; polícia e agentes da justiça e correção começam a chegar em várias áreas.

Eleutério Guevane, da ONU News em Nova Iorque.

A coordenadora humanitária e chefe das Nações Unidas na República Centro-Africana disse que “há sinais profundamente preocupantes de manipulação religiosa” por detrás da recente onda de ataques no país.

Falando em Genebra, Najat Rochdi disse que  “pode fechar muito cedo a janela de oportunidade para evitar uma nova escalada da crise”.

Brutalidade

A representante contou que a frequência e a brutalidade dos atuais ataques ainda não tinham sido observadas desde agosto de 2014 em áreas que incluem Bangassou, Bria e Alindao.

Em todo o país surgiram novos “focos de violência e crimes atrozes” entre comunidades que acabam por destruí-las. Mais de 100 mil pessoas foram deslocadas nas últimas duas semanas.

Em Bangassou os combates mataram mais de 100 pessoas e forçaram milhares a fugir de suas casas. Pela primeira vez em três anos a violência desalojou mais de 500 mil pessoas.

Os países vizinhos acolhem cerca de meio milhão de refugiados do país, onde mais de uma em cada cinco famílias foi desalojada. As Nações Unidas conseguiram menos de US$ 100 milhões, cerca de um quarto do que é preciso para prestar ajuda humanitária ao país este ano.

Alerta

O secretário-geral assistente para os Direitos Humanos da ONU chamou a atenção para “sinais de alerta estão a ser dados” na República Centro-Africana e que estes “não devem ser ignorados”.

Em nota que descreve a situação do país, Andrew Gilmour disse haver uma fusão de grupos armados em “alianças confusas” e que “continuam ataques atrozes contra civis, principalmente mulheres e crianças”.

Violência

O representante concluiu na quarta-feira uma visita ao país  e mencionou que com a  violência das últimas semanas em partes do leste estas formações “buscam controlar recursos naturais.”

A nota destaca que o desarmamento está parado e que os autores de ataques mortíferos contra as forças de paz continuam em liberdade.

Gilmour menciona que houve progressos como o envio de funcionários da polícia, da justiça e de correção para muitas partes do país mas sem recursos para desempenhar as suas funções.

Como graves fatores de risco, o representante mencionou a “profunda frustração e desespero da população com o lento progresso na captura dos responsáveis por crimes, na verificação da justiça e na restauração da autoridade do Estado.”

Durante a sua presença de quatro dias no país, Gilmour lançou um relatório sobre os direitos humanos entre 2003 e 2015.

Violência

O secretário-geral assistente mencionou haver nervosismo em quem chamou de “peixes graúdos”, que provocaram os piores atos de violência porque o documento coincide com a chegada do novo procurador especial internacional.

O subsecretário-geral reuniu-se com representantes do governo, ativistas e grupos armados e sociedade civil. Ele disse que o “coro de vozes” do país expressa claramente o desejo de ver um novo país “construído sobre a justiça e o respeito pelo Estado de direito”.

Gilmour disse que há exigências pelo fim da impunidade e desespero dos centro-africanos por ver virada a página da história de tormentos e garantido que os avanços não realizados desde 2014 não sejam perdidos.

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