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Acnur quer fim de “abusos horrendos” por contrabandistas no mar Mediterrâneo

Acnur quer fim de “abusos horrendos” por contrabandistas no mar Mediterrâneo

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Agência considera resgate “questão de vida ou morte”; quase 14% das travessias deste ano ocorreram em quatro dias; pelo menos 1.150 pessoas desapareceram ou morreram enquanto tentam tentavam chegar à Europa.

Eleutério Guevane, da ONU News em Nova Iorque.

A Agência da ONU para Refugiados, Acnur, quer mais medidas antes da captura e da exposição dos que tentam cruzar o mar Mediterrâneo pelo que chama de “abusos horrendos”de contrabandistas na Líbia e em países de trânsito.

O chefe da agência, Fillipo Grandi, disse que essas ações incluem redobrar esforços para resolver conflitos, sobretudo em África, e o uso de recursos de desenvolvimento de uma forma muito mais estratégica.

Mudanças

O apelo do Acnur surge depois do anúncio de que mais de 6 mil pessoas atravessaram o Mediterrâneo para chegar à Itália desde a sexta-feira. O movimento fez subir o número total de migrantes e refugiados para mais de 43 mil.

Grandi destaca que é preciso reduzir a pobreza, mitigar os efeitos das mudanças climáticas e apoiar os países que acolhem ou são usados para a passagem de um grande número de refugiados. O pedido da agência é que haja políticas e ação coordenada dos países europeus e doadores.

Para Grandi, a rota do Mediterrâneo Central, a partir do norte de África, tem provado ser a mais mortífera. Mais de 1.150 pessoas desapareceram ou morreram enquanto tentam tentavam chegar à Europa desde o início do ano.

O Acnur sublinha que desde que 2017 começou, uma em cada 35 pessoas morreu durante a viagem marítima da Líbia para a Itália. Somente nos últimos quatro dias 75 pessoas perderam a vida.

Resgate

A agência quer que a prioridade para todos seja salvar as vidas após o recente aumento nas chegadas. O apelo é que haja mais esforços de resgate ao longo do percurso que o Acnur considera “uma questão de vida ou morte”.

A agência elogia os esforços feitos para o salvamento de dezenas de milhares de vidas pela Guarda Costeira italiana, em coordenação com a Frontex, a agência europeia que vigia as fronteiras do continente, e ONGs.

No ano passado mais de 46 mil pessoas foram resgatadas pelas organizações de sociedade civil no Mediterrâneo Central, o equivalente a 26% das operações e o número de 2017 devem atingir um terço.

Assassinatos

Grandi revelou estar “profundamente chocado” com a violência levada a cabo pelos contrabandistas, que inclui o assassinato de jovens que foi recentemente relatado por sobreviventes.

Os passageiros a bordo de navios usados pelos traficantes oscilam entre 100 e 150, o que agrava o risco de naufrágios aliado à fraca qualidade de navios e ao uso crescente de barcos de borracha no lugar de embarcações de madeira.

Os navios usados não têm telefones de satélite, o que torna mais difíceis os esforços de resgate. Os migrantes e candidatos a asilo não podem pedir ajuda e ser localizados.

O Acnur sublinha que esta situação não pode continuar sendo “imperioso combater as causas profundas do movimento de pessoas”. O chefe da agência quer alternativas credíveis para os que precisam de proteção internacional, que incluem formas seguras para chegar à Europa, de reunir famílias, para a sua transferência e reassentamento.

Photo Credit
Barco no mar Mediterrâneo repleto de refugiados e migrantes. Foto: Acnur/Massimo Sestini