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Entrevista: OMS e o caso das “doenças esquecidas” em Angola

Entrevista: OMS e o caso das “doenças esquecidas” em Angola

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Nesta entrevista, de Luanda, o representante da Organização Mundial da Saúde OMS em Angola, Hernando Agudelo, revela como a agência apoia as autoridades com remédios, viaturas ou no processo de mapeamento para melhorar a intervenção.

A única certeza é que as mais frequentes são a oncocercose, também chamada "cegueira dos rios", ao lado das filárias nos vasos linfáticos e da doença do sono.

A OMS apoia um estudo que busca os detalhes sobre a incidência dessas doenças tropicais esquecidas no país.

O tema estará em destaque numa cimeira que decorre a partir de 19 de abril Genebra sob o lema “Consolidar. Acelerar. Eliminar.”

O responsável revela nesta entrevista que é preciso um tratamento em massa para diminuir as doenças tropicais negligenciadas da realidade angolana. O país é o primeiro a apresentar os perfis sobre das doenças tropicais negligenciadas em nações de língua portuguesa.

ONU News, O.N.: Como está Angola em relação às doenças tropicais negligenciadas? Quais são as mais frequentes?

Hernando Agudelo, H.A: Angola tem várias doenças tropicais negligenciadas. Começámos pela cimeira que vai decorrer em Genebra. Há um pacote de 10 doenças tropicais negligenciadas que se quer que sejam eliminadas. Há cinco anos que tem sido feito um plano para esta eliminação, com muitos parceiros envolvidos. A OMS está liderando esse trabalho. Há também um propósito de fazer um mapeamento de países e entre eles está Angola. Há um trabalho iniciado desde 2015 para fazer este mapeamento a nível de todas as províncias do país. Estamos a fazer o trabalho de forma faseada. É um trabalho muito grande. Teve que ser faseado para diferentes províncias e há seis delas com mapeamento, por exemplo da filariose linfática: Bié, Huíla, Huambo, Cuando Cubango, Uíje e Zaire. Há outras doenças que também estão a ser mapeadas como a oncocercose e a drancoculíase  para ver onde estão presentes e assim tomar as medidas necessárias de tratamento em massa para a prevenção a nível de localidades mais comprometidas.

O.N.: Como é que faz quando alguém aparece em busca de tratamento. Em que medida a OMS intervém nesse processo?

H.A: O desafio mais importante é assegurar que o tratamento em massa é feito. Medicamentos que sejam gratuitos providenciados para comunidades em quantidades, porque são tratamentos em massa e que estejam sempre disponíveis de uma maneira sistemática para fazer o tratamento de uma maneira regular e assegurar que todas as comunidades, e especialmente as mais afetadas, podem receber o tratamento para cortar o ciclo epidemiológico destas doenças. Só fazendo de uma maneira sistemática esses tratamentos em massa se pode cortar esse ciclo epidemiológico. Isso tem que ser assegurado pelo governo, deve haver um compromisso realmente muito grande das autoridades a nível, nacional, provincial e comunitário. Assegurar que as comunidades participam na mobilização das populações e assegurar que recebem o tratamento e que seja feito de uma maneira sistemática e regular.

 O.N: Há doenças tropicais negligenciadas que em África têm maior destaque como a elefantíase, a cegueira dos rios e a bilharziose. Este é o caso em Angola? Temos mais a incluir nesta lista?

H.A: Em Angola das que mais temos dentro do mapeamento há quatro que mostram que são endémicas. Há definitivamente a oncocercose, a filaríase linfática, a esquistossomose e estão são endémicas. A tripanossomíase também existe mas os resultados do tratamento e da política nacional para a eliminação de algumas destas enfermidades têm feito diminuir algumas. A tripanossomíase tem diminuído muito pelo trabalho muito permanente que se tem feito onde ocorre onde se chegou a reduzir de mais de 500 a 50 casos por ano. Esta é uma grande redução mas ainda temos a maior parte destas doenças transmitidas por vetores. Enquanto o vetor ainda estiver presente a eliminação total é difícil. Há que eliminar o vetor e as doenças dentro das populações para que não sejais transmitidas a outras pessoas.

O.N: Sobre a parceria entre a OMS e as autoridades angolanas disse que é preciso mais trabalho , Como é que se pretende avançar para estas doenças sejam efetivamente combatidas?

Creio que é um trabalho que ainda tem que ser feito a nível muito local. A nível central é preciso assegurar que os medicamentos estão disponíveis. A OMS assegura a disponibilidade dos medicamentos. Estes chegam e depois disse é preciso assegurar que os remédios sejam distribuídos atempadamente. Que cheguem a tempo às províncias. Destas às municipalidades e de lá organizar de uma maneira adequada às comunidades das aldeias, dos municípios para assegurar que as pessoas recebem os tratamentos. Quanto à parceria, há vontade de parceria a nível central e provincial mas o assunto é que além de medicamentos é preciso meios para o deslocamento. A OMS tem dado equipamento para fazer o trabalho contra as doenças negligenciadas. Agora em breve Vamos dar um par de viaturas para fazer a mobilização das aldeias onde o tratamento em massa tem de ser feito para deslocar, fazer a mobilização das comunidades. Por exemplo, o tratamento nas escolas assegurando que se dá o tratamento às crianças em idade escolar que é uma maneira mais fácil e simples de fazer chegar o tratamento às pessoas que precisam do tratamento. É um trabalho muito grande. Não é impossível. Há que fazer o máximo para que a gente possa envolver-se a todos os níveis e especialmente no local com as comunidades para assegurar esta distribuição.

O.N: Algo mais que queira acrescentar em relação às esperanças no combate à doenças negligenciadas?

H.A: Esperamos terminar o mais cedo possível o mapeamento e saber exatamente onde está a maior incidência a nível das diferentes províncias e agir de acordo com isso.

Photo Credit
Hernando Agudelo. Foto: OMS-Angola.