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Sudão do Sul: Comissão alerta para “consequências impensáveis” da falta de ação

Sudão do Sul: Comissão alerta para “consequências impensáveis” da falta de ação

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Investigadores internacionais afirmam que líderes políticos demonstram desprezo pelas populações; ministro sul-sudanês disse ao Conselho de Direitos Humanos que relatório não reflete pontos de vista do governo.

Eleutério Guevane, da ONU News em Nova Iorque. 

A Comissão que investiga os direitos humanos no Sudão do Sul advertiu esta terça-feira que o fracasso em levar autores de atrocidades ao tribunal “pode tornar o mundo cúmplice do derramamento de sangue” no país.

Yasmin Sooka disse ao Conselho de Direitos Humanos, em Genebra, que nos últimos nove meses aumentaram os abusos e confrontos, incluindo os atos de repressão e ameaças feitas à sociedade civil e aos jornalistas locais.

Abusos

A presidente da equipa de investigadores declarou que ocorrem mais combates em áreas onde antes não havia, e aumentam os alvos civis. Entre as violações cometidas no país ela destacou os estupros em massa.

A líder considerou a dimensão e a escala da violência sexuais como “tão horríveis que as consequências da inércia serão impensáveis”. Ela disse que se os responsáveis pelos atos serão encorajados se forem ignorados pela comunidade internacional.

Sooka afirmou que oposição é também responsável por alguns abusos, apesar de ser em menor escala.

“Exageros”

O ministro sul-sudanês da Justiça, Paulino Wanawilla Unango, respondeu ao Conselho que “não reconhece as descrições feitas por Sooka sobre o seu país.”

Ele sublinhou que no informe contam exageros e alegações da equipa que, em sua opinião, visitou apenas os locais da ONU que protegem civis em quatro cidades e produziu o relatório que não reflete pontos de vista do governo.

Para a Comissão, um dos maiores desafios é levar os alegados autores dos abusos ao tribunal, principalmente aos que ocupam altos cargos políticos e militares.

Sooka citou “um pequeno círculo de líderes políticos que demonstra total desprezo, não apenas pelas normas internacionais de direitos humanos, mas pelo bem-estar do seu próprio povo, desperdiça a riqueza do petróleo e saqueia os recursos do país".

Busca da paz

A chefe da Comissão advertiu que uma nova escalada de violações de direitos humanos só pode ser evitada se houver um impulso imediato para criar um tribunal que “deve estar operacional até o final do ano”.

A perita disse que pelo menos sete líderes civis e militares renunciaram aos cargos nos últimos meses devido ao “preconceito étnico no governo, ao tribalismo e por questionarem a vontade da busca da paz.”

Em fevereiro o país declarou situação de fome em áreas do antigo estado de Unidade. O conflito iniciado em 2013 deslocou cerca de 2 milhões de pessoas e obrigou mais de 1,5 milhão de sul-sudaneses a procurar abrigo na região.

Photo Credit
Deslocados internos em Malakal, Sudão do Sul. Foto: OIM/Bannon