Relatório da ONU detalha sérias violações de direitos humanos na Turquia
Casos ocorreram no sudeste do país; documento contém alegações de destruição e assassinatos; imagens de satélite mostram que localidades inteiras foram arrasadas; governo turco nega incidentes.
Monica Grayley, da ONU News em Nova Iorque.
O Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas divulgou um relatório detalhado sobre alegações de violações ocorridas no leste da Turquia.
O documento inclui casos de destruição massiva, assassinatos e inúmeras violações ocorridos entre julho a dezembro de 2015, no sudeste do país, durante operações de segurança do governo turco.
Incêndio
Mais de 30 cidades foram afetadas e até 500 mil pessoas podem ter sido obrigadas a deixar suas casas. A maioria das vítimas é de origem curda.
O relatório também descreve a destruição da localidade de Nusayubin, onde 1786 prédios teriam sido destruídos. Imagens de satélites também mostram que localidades inteiras foram arrasadas.
Em comunicado, o Escritório de Direitos Humanos da ONU afirma que está “especialmente alarmado com a análise das imagens que indicam a magnitude da destruição causada por armamento pesado”.
Energia elétrica
Nas províncias de Cizre e Sirnak, 189 pessoas morreram incluindo crianças após não terem com sair do local, durante semanas. Eles ficaram sem água, comida e energia elétrica e acabaram perdendo a vida num incêndio iniciado com um bombardeio.
O documento da ONU também relata a história de uma família que foi convidada pelo promotor público a recolher os restos mortais de uma mulher. Ao chegarem lá, se depararam com três pequenos pedaços carbonizados do corpo dela. A identificação só foi possível por exame de DNA. A família não recebeu qualquer explicação para a morte. Quando a irmã dela tentou entrar na justiça, foi processada por terrorismo.
O governo da Turquia informou que o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, PKK, realizou vários ataques violentos que resultaram na morte e ferimentos de forças de segurança turcas e outros indivíduos. A Turquia considera o PKK uma organização terrorista.
Médicos
O partido estaria envolvido ainda em sequestros, barricadas e no bloqueio de entrega de serviços médicos durante emergências.
O Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU contou que tem tentado acessar o sudeste da Turquia há quase um ano para realizar uma investigação independente das violações de direitos humanos.
Por isso, o relatório baseou-se em depoimentos, imagens de satélites e outros recursos. Há relatos de tortura, desaparecimentos forçados e violência a mulheres entre outros casos.
De acordo com o documento, as medidas foram tomadas durante o estado de emergência declarado após uma tentativa de golpe na Turquia, em julho do ano passado. Mais de 100 mil pessoas foram demitidas do emprego nos setores público e privado.
Professores
Cerca de 10 mil professores também perderam seus empregos ou desapareceram após suspeitas de ligação com o PKK. A lei antiterrorismo fez com que parlamentares de origem curda, democraticamente eleitos, perdessem seus postos. Meios de comunicação e associação curdos foram fechados e vários jornalistas independentes contaram terem sofrido intimidações.
O alto comissário de direitos humanos da ONU, Zeid Al Hussein, admitiu que a Turquia enfrenta desafios complexos em lidar com a tentativa de golpe e em responder a uma série de ataques terroristas. Mas para Zeid, a piora aparente na situação dos direitos humanos é motivo de alarme.
Zeid diz que nenhuma investigação de centenas de assassinatos incluindo o de mulheres e crianças foi realizada, em mais de um ano.
Ele finalizou dizendo que o governo da Turquia negou acesso à equipe de direitos humanos e também a veracidade das alegações do relatório.