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Especial: língua materna como expressão de identidade em Moçambique

Especial: língua materna como expressão de identidade em Moçambique

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Unesco aposta na alfabetização em idiomas locais para reduzir índice de alfabetismo; quase 45% da população moçambicana não é alfabetizada;  mulheres apresentam os mais altos níveis de analfabetismo.

Ouri Pota, da ONU News em Maputo.*

A ONU News em Maputo conversou com profissionais que apoiam o sistema educativo moçambicano no âmbito do Dia Internacional da Língua Materna.

Este ano, a data destacou a educação multilíngue como contributo para a mobilização e o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODSs.

Estatísticas

As Nações Unidas preveem na meta número 4 a garantia de uma educação inclusiva e de qualidade para todos.

A oficial de Programas de Educação de Jovens e Adultos na Unesco em Moçambique, Dulce Mungói, considera a língua materna uma expressão que ajuda na identificação de valores.

“Neste momento 44,9% da população moçambicana não é alfabetizada. Por exemplo se nós vamos as províncias de Cabo Delgado, Nampula, Niassa que são as províncias do norte, este número esta acima de 50%. E um dos grandes desafios é a língua. A Unesco tem desenvolvido programas específicos em parceria com o Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano nesta área.”

Para apoiar o ensino bilingue em Moçambique, a Associação Progresso, em parceria com o Instituto Nacional do Desenvolvimento da Educação, Inde, publicou manuais educativos nas línguas locais macua, maconde, Yao e Nianja.

Formação

Hélvia Momade, responsável de Programas na Progresso, cita alguns obstáculos no ensino bilingue no país.

“Tem sido um grande desafio para que o ensino bilingue possa avançar porque existem materiais, mas não temos professores ou instituição que forma professores para ensinar na sua própria língua. Então, nós cremos que é um grande desafio  para o avanço do ensino bilingue. Há vontade, há materiais, mas temos este entrave, precisamos de quem possa ensinar a ensinar .”

Além da necessidade de ter professores formados, Hélvia Momade mencionou a difícil convivência entre géneros.

Fundos

“É um grande desafio ter homens e mulheres a estudar na mesma sala. Alguns desistem porque eles dizem, nós não queremos aprender nesta língua porque nós já falamos esta língua. Então um dos desafios é justamente levar o próprio beneficiário deste processo, de ensino-aprendizagem, a perceber que precisa de aprender na língua que ele fala. Nós produzimos vários materiais, mas é preciso imprimir, então financiamento e fundos constituem grande desafio.”

Dulce Mungói disse que a Unesco privilegia a educação em língua materna e a  formação das raparigas.

“Há zonas, por exemplo, que 70% a 80% de pessoas não alfabetizadas são mulheres. Por isso que uma das aposta da Unesco é privilegiar a educação das raparigas, advocacia junto das comunidades, também estamos a trabalhar com parceiros como a Progresso para privilegiar a educação da rapariga.”

A diretora-geral da Unesco,  Irina Bokova, afirmou  que as línguas transmitem valores e visões do mundo que enriquecem a humanidade.

*Apresentação: Eleutério Guevane.

Photo Credit
Foto: ONU/Eskinder Debebe (arquivo)