Guterres: “Hoje é um dia de relembrar, refletir e olhar adiante”
Secretário-geral da ONU fez a declaração para marcar o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto; ele disse que a “história mundial permanece avançando mas o antissemitismo continua voltando”.
Edgard Júnior, da ONU News em Nova Iorque.
Em discurso para marcar o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, esta sexta-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres afirmou que a data é um momento para “relembrar, refletir e olhar para frente”.
Durante evento na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, disse que o “mundo tem o dever de lembrar que o Holocausto foi uma tentativa sistemática de eliminar o povo judeu e muitos outros”.
Antissemitismo
Falando em inglês, Guterres afirmou que “seria um erro pensar no Holocausto como um simples resultado da loucura de um grupo de criminosos nazistas”.
O chefe da ONU disse que muito pelo contrário, o Holocausto foi a culminação de milênios de ódio e discriminação aos judeus, o que é chamado hoje de antissemitismo.
Ao relembrar a história, Guterres citou que em Portugal, no século 16, o Rei Manuel ordenou a expulsão de todos os judeus que se recusaram a se converter ao cristianismo.
Segundo o secretário-geral, a decisão causou muito sofrimento. Muitos judeus portugueses acabaram indo para a Holanda. Para o chefe da ONU, o exemplo português demonstra que o antissemitismo, mais do que uma questão de religião, é essencialmente uma expressão de racismo.
Nacionalidade
Ele explicou que quando se tornou primeiro-ministro de Portugal, em 1995, sentiu que era necessário demonstrar, mesmo que simbolicamente, a rejeição e o arrependimento dos ataques do país aos judeus.
Por isso, em 1996, Guterres revogou a carta de expulsão e depois entregou uma cópia do decreto e se desculpou em nome do país durante uma visita a uma sinagoga portuguesa em Amsterdã.
O secretário-geral disse ainda que Portugal recentemente adotou lei permitindo que os descendentes dos judeus expulsos no século 16 possam recuperar a nacionalidade portuguesa.
O líder da ONU também lembrou a atitude de alguns cidadãos e diplomatas que protegeram os judeus da perseguição como o sueco Raoul Wallenberge e o cônsu português, Aristides de Sousa Mendes.
Cooperação
O chefe da ONU disse que “a história permanece avançando mas que o antissemitismo continua voltando”. Ele mencionou que depois do Holocausto, o mundo se mostrou disposto a encontrar um caminho de “mais cooperação”.
A criação das Nações Unidas representou uma expressão desse momento, segundo Guterres. A Carta da ONU, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Convenção sobre Genocídio consagraram o compromisso com a igualdade e os direitos humanos.
O chefe das Nações Unidas disse que o mundo precisa estar vigilante, investir em educação e na juventude. Segundo ele, a ONU precisa também fazer mais para fortalecer os direitos humanos e pressionar por justiça para os responsáveis por crimes considerados graves.
Guterres afirmou que “depois dos horrores do século 20, não pode haver espaço para a intolerância no século 21”.
Como secretário-geral, ele prometeu “estar na frente da batalha contra o antissemitismo e outras formas de ódio”.
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