Comissão da ONU alerta que Sudão do Sul está “à beira de uma catástrofe”
Peritos falam de aumento de discursos de ódio e repressão contra os meios de comunicação; especialistas de Direitos Humanos defendem que ainda há tempo de prevenir um genocídio.
Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.
Três especialistas que até esta quinta-feira visitaram o Sudão do Sul falam de um “cenário armado para a repetição do que aconteceu em Ruanda que a comunidade internacional tem a obrigação de evitar.”
Em nota, os membros da Comissão da ONU sobre os Direitos Humanos para o Sudão do Sul* destacam que o mais novo país do mundo está à beira de uma catástrofe. O documento foi emitido simultaneamente em Genebra e Juba.
Sociedade Civil
A chefe da equipa, Yasmin Sooka, considera preocupante “o aumento do discurso de ódio, a repressão contra os meios de comunicação e a sociedade civil que aprofunda as divisões entre 64 tribos do país”.
Sooka sublinha ainda que ocorrem novos recrutamentos num país “já inundado com armas e com a proliferação de grupos armados associados a ambos os lados envolvidos em conflito armado”.
A nota destaca que há um processo contínuo de limpeza étnica já em andamento em várias áreas do Sudão do Sul onde são usados fatores como “a fome, o estupro e o incêndio de aldeias”.
Combates
O grupo revela ter visitado vários locais do país e ouvido moradores que dizem estar “prontos para derramar sangue para ter a sua terra de volta”. Vários deles declararam que a situação “chegou a um ponto de não retorno”.
Durante a estação seca, até o fim de fevereiro, prevê-se que os combates sejam mais intensos.
Derramamento de sangue
O grupo recomenda à comunidade internacional que trave um derramamento de sangue acelerando a chegada imediata da Força de Proteção Regional de 4 mil homens. A sugestão é que esta não se limite apenas ao congelamento de bens, à aplicação de sanções específicas e ao embargo de armas.
Genocídio
Sooka disse que ainda há tempo de prevenir massacres após citar o representante especial para a Prevenção de Genocídio que recentemente visitou o Sudão do Sul.
A responsável apontou sinais de alerta que incluem o conflito, a expressão de identidades étnicas polarizadas, desumanização, cultura de negação, deslocados com base na etnia, violações sistemáticas e planeamento do tipo de ações.
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* Os integrantes do grupo são Yasmin Sooka, Kenneth Scott e Godfrey Musila.