Relatora diz que 10% dos paraguaios vivem com fome apesar de ações
Hilal Elver visitou o país sul-americano e elogiou o crescimento econômico e a produção de alimentos; relatora especial da ONU sobre o direito à alimentação diz que nação tem uma das taxas mais altas de desigualdade da região.
Monica Grayley, da Rádio ONU.
Apesar de alimentar cerca de 60 milhões de pessoas, o Paraguai ainda tem parte de sua população com problemas de fome e malnutrição.
A conclusão é da relatora especial da ONU sobre o direito à alimentação, Hilal Elver. Ela visitou o país a convite do governo e disse que 10% dos paraguaios vivem em situação de insegurança alimentar.
Produção
Ao mesmo tempo, a relatora elogiou ações do governo para combater a fome e disse que o crescimento econômico favoreceu a produção de alimentos.
Para a relatora, um dos maiores desafios atuais é resolver a questão da desigualdade social que, segundo ela, é uma das mais altas da região. Elver contou que as taxas de pobreza são três vezes maiores entre os indígenas e moradores de áreas rurais do que nos centros urbanos.
O setor agrícola do país, por exemplo, gera 25% do Produto Interno Bruto, PIB, e é uma área de exportação em grande escala. Mas apenas 6% das terras cultiváveis estão à disposição no país para a produção nacional de alimentos. O restante, ou seja, 94%, está reservado para o cultivo voltado à exportação. O déficit de terra atual atinge 300 mil agricultores paraguaios e suas famílias.
Reforma agrária
No Paraguai, 3% da população concentram até 80% da terra do país. Segundo a relatora, este fato leva a crer que a reforma agrária é algo urgente para os paraguaios. A propriedade da terra esbarra na burocracia, o que gera tensões incluindo conflitos violentos.
Uma outra preocupação da relatora é o modelo de desenvolvimento agrícola que, segundo ela, é baseado na monocultura. O país tem ainda uma das mais altas taxas de desflorestamento, o que agrava problemas ambientais por contas de plantações com transgênicos e o uso pesado de agrotóxicos.
Um exemplo foi o cultivo da soja, que lançou mão em excesso de pesticidas.
Hilal Elver também falou sobre o aumento de pessoas com sobrepeso, um fator que afeta mais de 50% da população. A relatora elogiou as medidas do governo para combater doenças crônicas.
Ela passou uma semana no país, onde se reuniu com representantes do governo, da sociedade civil e dos povos indígenas.
A conclusão da visita deve ser apresentada ao Conselho de Direitos Humanos em março de 2017.