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Relatório: Missão falhou em resposta à violência no Sudão do Sul

Relatório: Missão falhou em resposta à violência no Sudão do Sul

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Conclusão consta de investigação independente sobre incidentes na capital, Juba, em julho, e as ações adotadas Unmiss; secretário-geral afasta comandante da força da ONU no país.

Edgard Júnior, da Rádio ONU em Nova York.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que a Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul, Unmiss, não respondeu de forma adequada para controlar a violência no país entre os dias 8 e 25 de julho.

A conclusão consta de um relatório preparado por uma equipe especial chefiada pelo general Patrick Cammaert, para investigar incidentes ocorridos neste período.

Falta de Liderança

Falando a jornalistas em Nova York, o porta-voz de Ban, Stephane Dujarric, disse que o motivo para uma resposta ineficiente foi “a falta geral de liderança, preparação e integração entre os vários componentes da missão”.

A equipe de investigação concluiu ainda que os sistemas de controle e comando foram inadequados. Segundo o grupo, os soldados preferiram não tomar ação para “evitar cometer erros.”

Seguindo as recomendações do relatório, Dujarric afirmou que o secretário-geral pediu a substituição imediata do comandante da força militar da Unmiss, o general Johnson Mogoa Kimani Ondieki.

O porta-voz disse ainda que todos os fatores apontados no documento contribuíram para o fracasso da missão da ONU para responder aos ataques realizados por tropas do governo sul sudanês ao acampamento terreno, em 11 de julho, e proteger os civis.

Abusos Sexuais

Os investigadores não conseguiram comprovar as alegações de que os soldados da ONU “não fizeram nada para evitar abusos sexuais que estavam sendo cometidos na frente deles em 17 e 18 de julho.”

O relatório revelou que a Unmiss enfrentou uma série de circunstâncias extremamente desafiadoras e foi pega “num fogo cruzado de um conflito violento”.

Os investigadores disseram que durante três dias de lutas, pelo menos 73 pessoas foram mortas, incluindo mais de 20 deslocados internos que estavam nas áreas de proteção de civis, chamadas de POC.

Dois soldados das tropas de paz também morreram e vários ficaram feridos. Além disso, 182 instalações na área da Casa da ONU, em Juba, foram atingidas por tiros, morteiros e granadas.

Proteção

O porta-voz afirmou que Ban ficou “profundamente aflito” com as conclusões do relatório e demonstrou revolta com a violência cometida na capital do país em julho.

Ao mesmo tempo, Ban disse que a Unmiss salvou a vida de centenas de milhares de civis nos últimos três anos e agradeceu a dedicação dos funcionários da missão.

Ban ficou preocupado com os fracassos da Unmiss, identificados pela equipe de investigação, e que impediram o cumprimento do seu mandato, que é a proteção de civis e dos funcionários da ONU durante conflitos.

Em entrevista à Rádio ONU, o general Patrick Cammaert, que chefiou a equipe de investigação especial sobre a violência em Juba, disse que o grupo tinha dois objetivos.

O primeiro foi saber o que aconteceu entre 8 e 25 de julho nas áreas de proteção de civis e na Casa da ONU na capital sul sudanesa.

Acampamento

Além disso, a equipe investigou também a violência que ocorreu em uma outra área chamada de acampamento terreno, onde funcionários locais e internacionais e trabalhadores humanitários foram atacados.

O general explicou que os locais de proteção de civis são pequenas cidades dentro das áreas controladas pela ONU que foram criadas em 2013, quando os confrontos começaram no país.

Segundo ele, milhares de civis fugiram para as bases da ONU em busca de proteção e o trabalho de segurança dos policiais das Nações Unidas é muito difícil.

Dificuldades

O militar afirmou que a situação é difícil também para as pessoas deslocadas que querem voltar para casa e não podem por causa da violência. A situação se agrava ainda mais por causa das dificuldades de moradia, de saneamento básico e de higiene além dos problemas para se conseguir água.

Ao comentar sobre a proteção dos civis, o general disse que a Missão da ONU tinha um plano de contingência para lidar com uma situação normal mas não tinha nada preparado para lidar numa área insegura.

O chefe da equipe de investigação afirmou que os soldados e os policiais da ONU estavam relutantes em seguir o mandato para proteger os civis. Segundo o general, “havia uma falta de conhecimento sobre o mandato da ONU, sobre as regras de contato e uso de armas de fogo e da força”.

Helicópteros

Patrick Cammaert falou ainda que no acampamento terreno, a cerca de 1,5 km da Casa da ONU, foram registrados confrontos pesados com uso de tanques, artilharia, morteiros e ataques de helicópteros.

Ele explicou que quando a Casa da ONU recebeu a informação sobre a situação no acampamento terreno, os militares da base estavam tentando controlar as lutas entre os integrantes do Exército de Libertação do Povo do Sudão, Spla, e o Spla na oposição.

Segundo ele, a situação ficou mais difícil pelos saques que estavam ocorrendo e devido a um comando militar confuso.

Photo Credit
Deslocados internos que procuraram refúgio e proteção com a Unmiss. Foto: Unmiss/Eric Kanalstein (arquivo)