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Abusos criaram “clima de medo” no Burundi, alerta alto comissário

Abusos criaram “clima de medo” no Burundi, alerta alto comissário

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Chefe dos direitos humanos disse que violência envolve membros das forças de segurança, milícia pró-governo e homens armados; meninos foram presos por riscar fotos do presidente; morte de tutsis levanta receios de escalada de violência étnica.

Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.*

O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Al-Hussein, disse esta quarta-feira que há um “clima de medo” no Burundi por causa de ataques, restrições, abusos e violações das liberdades fundamentais.

Mais de 270 mil pessoas foram forçadas a fugir do país e outras 100 mil vivem como deslocadas depois da crise política, que começou com a candidatura do presidente Pierre Nkurunziza a um terceiro mandato em abril passado.

Detalhes

Num relatório apresentado ao Conselho dos Direitos Humanos, em Genebra, Zeid disse que os detalhes revelam uma “piora trágica e abrangente” da situação da população burundesa, um ano depois do início da crise.

As violações incluem execuções extrajudiciais, assassinatos, desaparecimentos forçados, detenções e prisões arbitrárias. O documento menciona casos de tortura e outras formas de maus-tratos, que incluem a violência sexual.

Os responsáveis seriam membros das forças de segurança e de inteligência e homens armados ligados à milícia Imbonerakure que apoia o partido do governo. Outros grupos e pessoas armadas também estariam por detrás dessas ações.

Desaparecimentos

Zeid relatou ataques, desaparecimentos forçados e prisão arbitrária de membros de jornalistas, membros de organizações da sociedade civil, de partidos da oposição e manifestantes.

A violência também afeta membros do partido no poder, das forças de segurança e do Imbonerakure. Eles são alvos de assassinato e de ataques com granadas.

A circulação na capital burundesa, Bujumbura, foi limitada por postos de controlo e pelo medo da violência “especialmente em bairros vistos como sendo apoiantes da oposição”. Estes são por várias vezes bloqueados para rusgas de forças de segurança.

Suspeitos

O relatório revela haver um alto risco de prisão e detenção para os que viajam de e para países vizinhos desde junho passado por serem suspeitos de tentar fazer parte de um grupo rebelde.

Além de citar que a economia do Burundi está “em queda livre”, após avanços feitos em oito anos de crescimento sustentado, Zeid destacou que a violência trava de forma grave o acesso ao emprego, à educação, aos serviços de saúde e a outros direitos fundamentais.

Crianças

O relatório revela ainda que crianças em idade escolar foram suspensas e presas por terem riscado imagens do presidente nos seus livros.

Vários ataques a antigas forças de segurança, da etnia tutsi, também causaram preocupação do alto comissário pela “perspetiva real de escalada de violência étnica” no país africano.

O apelo é que acabem as violações de direitos fundamentais que “arrasam as vidas, as esperanças e o futuro” dos burundeses e que a crise seja resolvida através de um diálogo nacional.

*Apresentação: Mônica Villela Grayley.

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Photo Credit
Protestos em Bujumbura, Burundi, após a reeleição do presidente Pierre Nkurunziza. Foto: Irin/Desire Nimubona