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Número de deslocados atinge recorde de mais de 65 milhões em todo o mundo

Número de deslocados atinge recorde de mais de 65 milhões em todo o mundo

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Cerca de metade é proveniente de países como Síria, Afeganistão e Somália;  angolanos lideram número de refugiados de países de língua portuguesa espalhados pelo mundo; Moçambique entre as nações de origem de novos deslocados.

Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.*

Pela primeira vez, o limiar de desalojados ultrapassou os 60 milhões em todo o mundo.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, Acnur, revelou que 65,3 milhões de pessoas foram desalojadas no fim de 2015, em comparação com 59,5 milhões do ano anterior.

Situações Novas

Os dados do relatório anual, publicado esta segunda-feira, destacam que quase metade desse total veio da Síria, do Afeganistão e da Somália. O documento foi lançado em Genebra para marcar o 20 de junho, Dia Mundial do Refugiado.

O Acnur revela que uma em cada 113 pessoas em todo o mundo vive como candidata a asilo, deslocada interna ou refugiada.

Angola  e Brasil

Entre os lusófonos, os angolanos lideram em termos de população que pediu refúgio em outros países com 11,8 mil. O país acolhe mais de 15,5 mil pessoas que vivem na situação.

O Brasil tem 895 cidadãos que pediram abrigo no exterior e acolhe 8.707. O porta-voz do Acnur no país, Luiz Fernando Godinho, disse que o ensino do português tem sido importante na integração dos estrangeiros.

"Os refugiados que estão vivendo no Brasil têm acesso a cursos de português oferecidos tanto por meio de ONGs que atuam conosco, como por meio de parcerias que essas organizações estabelecem localmente nas cidades onde elas atuam. Nós entendemos que o domínio do idioma é fundamental para a integração dessas pessoas aqui porque é a melhor maneira que eles têm de poder se estabelecer na sociedade brasileira tanto financeiramente como socialmente e com isso estabelecer melhores condições para a reconstrução da vida deles no Brasil. "

Em termos da população que pede abrigo nos outros países, Guiné-Bissau tem 1,4 mil e recebe 8,684 pessoas. Moçambique tem 57 refugiados espalhados pelo mundo e acolhe 5,622.

Portugal tem 28 cidadãos que vivem oficialmente como refugiados em outros países. O país abriga 699 pessoas nessa situação. Timor tem 20 refugiados no mundo, Cabo Verde 28 e São Tomé e Príncipe, 22 cidadãos.

Síria

O relatório aponta situações novas ou que reacenderam nos últimos cinco anos, que além da Síria foram observadas em países como Sudão do Sul, Iémen, Burundi, Ucrânia e República Centro-Africana.

Mas o conflito sírio ainda é a principal causa de deslocamentos e de sofrimento no mundo, ao produzir 4,9 milhões refugiados e 6,6 milhões de desalojados. O números correspondem a cerca de metade da população do país antes do conflito.

África Subsaariana

Moçambique está entre as nações mencionadas no documento que produziram um total de 18,4 milhões de refugiados e deslocados internos na África Subsaariana desde o fim do período analisado, colocando a região como o segundo maior ponto de origem de deslocados.

São igualmente mencionados os conflitos no Sudão do Sul, na República Centro-Africana e na Somália, e os contínuos deslocamentos em massa em países como Nigéria, Burundi, Sudão e República Democrática do Congo.

O mundo assiste a uma tendência de queda do ritmo das soluções encontradas para os refugiados e deslocados internos desde o fim da Guerra Fria, revela o documento.

Média por Minuto

No fim de 2005, o Acnur registou uma média de seis deslocados a cada minuto, um número que subiu para os atuais 24 por minuto.

Para o alto comissário da ONU para os Refugiados, mais pessoas são deslocadas pela guerra e pela perseguição, o que é preocupante, mas destaca que "também se multiplicam os fatores que põem os refugiados em perigo".

Interesse Humano

Filippo Grandi disse que no mar há um "número assustador de refugiados e migrantes a morrer a cada ano; em terra, as pessoas que fogem de guerras encontram o seu caminho bloqueado pelas fronteiras fechadas".

Para ele, em alguns países a política gravita contra o asilo. Grandi sublinha que "a vontade das nações de trabalharem em conjunto e não apenas para os refugiados, mas para o interesse humano coletivo, está a ser testada, e que esse espírito de união que tanto precisa prevalecer".

Crianças

O relatório destaca os 98,4 mil pedidos de asilo de crianças desacompanhadas ou separadas das suas famílias em 2015, o número mais alto já registado.

O Acnur revela que, no ano passado, 51% dos refugiados do mundo eram menores, um facto preocupante porque muitos deles foram separados dos pais ou viajaram sozinhos.

Nos países industrializados houve 2 milhões de novos pedidos de asilo, que fizeram subir para 3,2 milhões de casos pendentes. A Alemanha lidera a lista de candidaturas, com 441,9 mil, seguida pelos Estados Unidos, com 172 mil.

*Apresentação: Michelle Alves de Lima.

Photo Credit
Jovem afegâ é resgatada do mar por um voluntário na ilha grega de Lesbos. Foto: Acnur/Achilleas Zavallis