Perspectiva Global Reportagens Humanas

“Devolvam as nossas meninas, as nossas crianças”

“Devolvam as nossas meninas, as nossas crianças”

Baixar

Declaração da representante especial do secretário-geral para Crianças e Conflito Armado, Leila Zerrougui, marca os dois anos do sequestro de 276 raparigas em Chibok, na Nigéria.

Laura Gelbert, da Rádio ONU em Nova Iorque. 

“Há dois anos, no meio da noite, 276 meninas foram sequestradas do domitório da sua escola, em Chibok, nordeste da Nigéria, pelo Boko Haram. Cinquenta e sete escaparam horas depois, mas ainda não se sabe o que aconteceu com as 219 raparigas restantes”.

Assim começa a declaração da representante especial do secretário-geral para Crianças e Conflito Armado, Leila Zerrougui, publicada esta quarta-feira. As meninas foram raptadas em 14 de abril de 2014.

Descoberta do Terror

Segundo a representante, “naquele dia o mundo descobriu a violência e o terror que as crianças do nordeste da Nigéria havian sido submetidas há meses”.

“Devolvam as nossas meninas”, mencionou Zerrougui, foi exigido na ocasião e agora, assim como o “fim de todas as graves violações cometidas contra menores neste conflito”.

Nos últimos dois anos, os combates continuaram a crescer e as ações do Boko Haram espalharam-se para os Camarões, o Chade e o Níger, países vizinhos da Nigéria.

Raparigas Bombistas

A representante especial alertou que mais crianças foram sequestradas e centenas de meninos e meninas foram mortos, mutilados e recrutados pelo grupo.

Leila Zerrougui chamou a atenção ainda para o que considera ter-se tornado “uma das táticas mais terríveis do Boko Haram”: mulheres e crianças, especialmente raparigas, foram forçadas a servir como bombistas suicidas em mercados e locais públicos, matando muitos civis.

Deslocados

Para ela, portanto, em meio a tal violência, não é surpresa que famílias decidam fugir para áreas mais seguras na Nigéria e nos países vizinhos.

A representante mencionou haver acima de 2 milhões de deslocados, incluindo mais de 1 milhão de menores.

Crianças Traumatizadas

No ano passado, o governo da Nigéria retomou o controlo de parte de algumas áreas do nordeste do país e reféns do Boko Haram foram libertados ou puderam escapar, incluindo muitas crianças.

Segundo Zerrougui, meninas e meninos contaram histórias perturbadoras sobre o seu cativeiro, incluindo como aldeias inteiras foram incendiadas, sobre a violência sexual e o recrutamento de menores pelo grupo, entre outras violações.

A representante ressaltou que esses menores anseiam pela segurança de suas famílias, mas voltar a suas comunidades pode significar “perseguição e desconfiaça”.

Raparigas que se tornaram jovens mães, segundo Zerrugui, enfrentam desafios até maiores e defendeu que “essas crianças traumatizadas” precisam de apoio e assistência para combater o estigma e a rejeição.

Educação

A representante especial do secretário-geral também destacou o impacto do conflito na educação: mais de 1,5 mil escolas no nordeste da Nigéria foram destruídas e os professores foram-se.Centenas de milhares de crianças estão sem acesso à educação.

Ela defendeu que as ações da comunidade internacional para apoiar iniciativas para levar os menores de volta à escola são “essenciais” e devem ser mantidas.

Ao concluir sua nota, Leila Zerrougui declarou que “não se pode tolerar o sequestro de crianças nem esquecer as meninas de Chibok” e fez um apelo: “Devolvam as nossas meninas. Devolvam as nossas crianças”.

Leia e Oiça:

Número de crianças usadas em ataques suicidas é 10 vezes maior 

Boko Haram: meninas realizaram um terço de ataques com crianças-bomba 

Ban: "Nunca devemos esquecer as meninas sequestradas em Chibok" 

Photo Credit
Refugiados em Diffa, no Níger, após fugirem da violência do Boko Haram na Nigéria. Foto: Ocha/Franck Kuwonu