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Número de crianças usadas em ataques suicidas é 10 vezes maior

Número de crianças usadas em ataques suicidas é 10 vezes maior

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Relatório do Unicef aborda casos ocorridos na Nigéria, Camarões e Chade; mais de 75% das crianças envolvidas nos ataques eram meninas; sequestro de estudantes de Chibok pelo Boko Haram completa dois anos.

Leda Letra, da Rádio ONU em Nova York.

Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, o número de crianças envolvidas em ataques suicidas subiu 10 vezes nos últimos anos. Em 2014, quatro menores foram utilizados na Nigéria, nos Camarões e no Chade, sendo que no ano passado, foram 44 crianças.

As meninas representaram mais de 75% das crianças obrigadas a participar dos ataques. O diretor do Unicef para África Ocidental e Central foi claro: “elas também são vítimas e não responsáveis” pelas ações.

Sequestro

Manuel Fontaine explica que “forçar as crianças a realizarem ataques mortais tem sido um dos aspectos mais terríveis da violência na Nigéria e em países vizinhos”.

O relatório “Além de Chibok” é lançado dois anos após o grupo Boko Haram sequestrar 200 alunas na cidade nigeriana. O documento do Unicef traz outros números considerados alarmantes pela agência.

Entre janeiro de 2014 e fevereiro deste ano, os Camarões tiveram o maior número de ataques suicidas envolvendo crianças: 21. Na sequência vieram Nigéria, com 17 ataques, e Chade, com dois.

Medo

Nos últimos dois anos, entre cinco homens-bomba, um era criança. Em 2015, os menores de idade foram utilizados em metade dos ataques suicidas nos Camarões.

A frequência de todos os ataques suicidas subiu de 32, em 2014, para 151 no ano passado. A maioria ocorreu na Nigéria. O uso de crianças carregando bombas criou, segundo o Unicef, uma atmosfera de “medo e suspeitas”, com sérias consequências para as meninas que sobreviveram ao cativeiro e à violência sexual, vítimas do Boko Haram na Nigéria.

As crianças que escapam ou são libertadas dos grupos armados geralmente são vistas como ameaças de segurança, informa a agência da ONU.

O relatório também informa que nos países afetados pelo Boko Haram, mais de 1,3 milhão de crianças estão deslocadas, 1,8 mil escolas estão fechadas e 5 mil crianças estão desacompanhadas ou foram separadas de seus pais.

Alimentação

De acordo com a ONU, mais de 2,5 milhões de pessoas em áreas afetadas por confrontos na Nigéria enfrentam insegurança alimentar. A situação pode agravar nos próximos meses.

Já um grupo de sete relatores de direitos humanos da ONU e da União Africana está pedindo ao governo do país para aumentar esforços e conseguir a libertação de todos os sequestrados pelo Boko Haram, incluindo as meninas de Chibok.

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Photo Credit
Salta Bintou Hassan, de 11 anos, perdeu o braço após um ataque suicida no Chad em outubro de 2015. Foto: Unicef /UN015888/Bahaji