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Portugal aposta em dessalinização para aumentar fontes de água

Chuvas  em Portugal diminuíram cerca de 15% em 20 anos
ONU News/Leda Letra
Chuvas em Portugal diminuíram cerca de 15% em 20 anos

Portugal aposta em dessalinização para aumentar fontes de água

Clima e Meio Ambiente

Plano imediato envolve três centrais do país que quer incrementar sua “diplomacia climática”, cooperação hídrica com Cplp e alianças em favor de políticas e regulamentação de serviços.

Transformar água do mar em potável pode ser uma saída estratégica para Portugal, enfrentar as secas, cada vez mais, intensas no país. O ano de 2022 foi um dos mais quentes da história, de acordo com as autoridades portuguesas.

Para viabilizar o acesso ao recurso, três centrais de dessalinização estão na mira do governo, como informou o secretário de Estado português do Ambiente. Hugo Pires falou à ONU News, em Nova Iorque, depois da Conferência da Água, que terminou dia 24.

Menos chuvas

“Portugal é um país na vanguarda das alterações climáticas. Por exemplo, o ano passado, desde que há medições, foi um dos anos em que menos precipitação houve. Isso trouxe-nos problemas de seca extrema em todo o país. Nós temos vindo a criar planos hidrológicos por regiões. Temos, para já, priorizado as regiões onde vamos intervindo. Elas têm sido as primeiras que têm que ter atenção especial, tais como Algarve, Alentejo e a Bacia do Tejo.”

As zonas portuguesas que mais sofrem com a seca e com a escassez de água contam com um Plano de Recuperação e Resiliência com financiamento da União Europeia.

“A dessalinizadora, nós temos prevista num plano de grande resiliência, que é também apoiado por fundos europeus. A implementação de uma dessalinizadora no Algarve é ao abrigo desse fundo europeu. E depois, temos também previstas mais duas: uma delas em Cines num grande projeto industrial. A dessalinizadora é hoje um recurso que pode ajudar em muitos lugares. Não só em Portugal, mas em outros sítios, para que as pessoas possam ter acesso à água para fazer as suas vidas.”

Eventos extremos

Para o secretário de Estado do Ambiente em Portugal, não se pode esperar para atuar pelo acesso ao recurso. Esses esforços também dependem de uma cooperação com os países, incluindo os de língua portuguesa.

Hugo Pires revelou a aposta de Portugal numa “diplomacia climática” para se fazer frente a um acesso cada vez mais difícil ao recurso, ajudar na resposta global às migrações causadas pela crise do clima e prevenir conflitos.

“Nós não podemos negar que as alterações climáticas estão aí. Que o futuro está cada vez mais imprevisível e que os eventos extremos de secas, de cheias acontecerão cada vez mais. Portanto, se nós estivermos mais bem preparados, estaremos mais aptos para responder a esses problemas”.

Zonas portuguesas que mais sofrem com a seca e com a escassez de água contam com um Plano de Recuperação e Resiliência
© João Paulo Sotto Mayor
Zonas portuguesas que mais sofrem com a seca e com a escassez de água contam com um Plano de Recuperação e Resiliência

 

Portugal revelou que, nos últimos 20 anos, as chuvas diminuíram cerca de 15% no país. A previsão é que a perda dos volumes de água se mantenha e as quedas rondem entre 10% e 25% até o final do século.

Coerência do trabalho sobre acesso à água

A alteração nos padrões de chuva reduz o fluxo para os rios, barragens e aquíferos. Para reduzir o consumo e aumentar o uso eficiente da água o país quer preservar as fontes, incentivar o cuidado doméstico e em áreas como agricultura e devolver em melhores condições aos rios e mares.

Quanto ao reaproveitamento, até 2025 Portugal quer que 10% de toda a água seja tratada para fins como irrigação de culturas, de campos de golfe ou limpeza de ruas aplicando princípios da economia circular.

Para aumentar os esforços e compromissos nesse sentido, o país quer melhorar o financiamento e criar instituições por um boa governança e regulamentação.

Na reunião, Portugal juntou-se aos países que solicitam um enviado especial das Nações Unidas para a Água para uma melhor coordenação e a coerência do trabalho sobre o recurso  e “dar à água a voz que lhe falta.”

O governo português diz estar empenhado em promover uma aliança global sobre melhores políticas e regulamentação dos serviços de água e saneamento, para uma melhor gestão do acesso em níveis local, regional, nacional e transnacional.