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Holocausto: Guterres alerta para perigo do discurso de ódio antissemita na internet

Um memorial no antigo campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, na Polônia
Unsplash/Jean Carlo Emer
Um memorial no antigo campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, na Polônia

Holocausto: Guterres alerta para perigo do discurso de ódio antissemita na internet

Assuntos da ONU

Secretário-geral discursou em cerimônia para marcar o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto; para ele, mundo online é uma das principais razões pelas quais o discurso de ódio, as ideologias extremas e a desinformação estão se disseminando tão rapidamente pelo globo.

A Assembleia Geral da ONU abrigou uma cerimônia para marcar o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, nesta sexta-feira. Participaram sobreviventes, familiares de vítimas, acadêmicos e artistas.  

A subsecretária-geral de Comunicação Global abriu a solenidade relembrando os horrores do genocídio dos judeus.

Impedir que aconteça novamente

Melissa Fleming ressaltou a importância de impedir outros holocaustos no futuro. E pediu um momento de silêncio pelas vítimas.

Em seguida, o secretário-geral da ONU António Guterres lembrou que, em poucos meses, os nazistas desmantelaram os direitos constitucionais fundamentais e pavimentaram o caminho para o regime totalitário: membros do Parlamento foram presos, a liberdade de imprensa abolida e o primeiro campo de concentração construído em Dachau.

Guterres ressaltou que o antissemitismo dos nazistas se tornou política de governo, seguido de violência e assassinatos em massa. E que até o final da guerra, seis milhões de crianças, mulheres e homens, quase dois em cada três judeus europeus, haviam sido assassinados.

Sapatos confiscados de prisioneiros no campo de concentração de Majdanek, emprestados pelo Museu do Estado de Majdanek, Lublin, Polônia, ao Museu Memorial do Holocausto dos EUA
Museu Memorial do Holocausto dos EUA
Sapatos confiscados de prisioneiros no campo de concentração de Majdanek, emprestados pelo Museu do Estado de Majdanek, Lublin, Polônia, ao Museu Memorial do Holocausto dos EUA

Alertas ignorados

Ele traçou paralelos entre 1933 e o mundo de hoje, dizendo que “os sinais de alarme já soavam em 1933”, mas “poucos se deram ao trabalho de ouvir e menos ainda dizer algo”.

Para Guterres, vivemos em um mundo em que uma crise econômica está gerando descontentamento, demagogos populistas estão usando a crise para ganhar votos, e “desinformação, teorias da conspiração paranoica e discurso de ódio descontrolado” estão desenfreados.

Além disso, ele cita um crescente desrespeito pelos direitos humanos e desdém pelo Estado de direito, com o surgimento de supremacistas brancos e ideologias neonazistas, negação do Holocausto e revisionismo, e crescente antissemitismo, assim como outras formas de fanatismo religioso e ódio.

“O antissemitismo está em toda parte”

O secretário-geral lamentou o fato de que o ódio antissemita pode ser encontrado em todos os lugares hoje e está aumentando em intensidade.

Guterres citou vários exemplos, como ataques a judeus ortodoxos em Nova Iorque, alunos judeus intimidados em Melbourne, na Austrália, e suásticas pintadas no memorial do Holocausto na capital alemã, Berlim.

Ele acrescentou que os neonazistas agora representam a ameaça número um à segurança interna em vários países, e que os movimentos de supremacia branca estão se tornando mais perigosos.

Fotografias de vítimas no Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, em Washington
Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos
Fotografias de vítimas no Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, em Washington

Ódio e mentiras na internet

Para o chefe da ONU, o mundo online é uma das principais razões pelas quais o discurso de ódio, as ideologias extremas e a desinformação estão se disseminando tão rapidamente em todo o mundo. Ele apelou a todos os envolvidos, de empresas de tecnologia a formuladores de políticas e mídia, para fazer mais.

Guterres criticou as plataformas de mídia social e seus anunciantes que, segundo ele, são cúmplices em levar o extremismo ao palco principal, transformando muitas partes da internet em “depósitos de lixo tóxico para ódio e mentiras perversas”.

A contribuição da ONU para abordar a questão inclui a Estratégia e o Plano de Ação do Secretário-Geral sobre o Discurso de Ódio, propostas para um Pacto Digital Global para um futuro digital aberto, gratuito, inclusivo e seguro e um código de conduta para promover a integridade nas relações públicas em formação.

Novas ondas de antissemitismo

O presidente da Assembleia Geral também discursou na cerimônia. Csaba Korosi lembrou ao público que, embora a Assembleia tenha sido criada para garantir que ninguém tenha que passar pelo o que os sobreviventes do Holocausto sofreram, 2023 já está vendo “novas ondas de antissemitismo e negação do Holocausto” em todo o mundo.

Korosi disse que “como veneno, eles se infiltram em nossa vida cotidiana. Nós os ouvimos de políticos, e lemos na mídia”. Para ele, o ódio que tornou possível o Holocausto continua.

O presidente da Assembleia Geral pediu resistência contra os “tsunamis de desinformação que estão caindo sobre a internet”.