Perspectiva Global Reportagens Humanas

“Violência no Haiti é estratégia criminosa para subjugar a população”

Menina na capital haitiana Porto Príncipe
UNDP Haiti/Borja Lopetegui Gonzalez
Menina na capital haitiana Porto Príncipe

“Violência no Haiti é estratégia criminosa para subjugar a população”

Paz e segurança

Declaração foi dada ao Conselho de Segurança pela representante especial da ONU no país, Helen la Lime; cerca de 5 milhões de haitianos estão passando fome aguda e milhares de crianças ainda não começaram o ano letivo.

A crise no Haiti está revertendo os avanços cruciais de segurança e desenvolvimento feitos desde 2010, quando o país sofreu um terremoto arrasador. Hoje, gangues criminosas estão praticando violência em todo o país como uma estratégia para oprimir a população.

Foi o que disse a chefe da missão da ONU no Haiti ao Conselho de Segurança, Helen la Lime.

Chefe da missão da ONU no Haiti, Helen La Lime, falou ao Conselho de Segurança sobre a situação no país
UN Photo/Eskinder Debebe
Chefe da missão da ONU no Haiti, Helen La Lime, falou ao Conselho de Segurança sobre a situação no país

Guerras territoriais

La Lime destacou os níveis crescentes de violência das gangues e as dificuldades das forças policiais para enfrentar os bandidos. Somente no ano passado, houve mais de 1,3 mil sequestros no Haiti e 2,1 mil pessoas foram assassinadas.

Este é o maior nível de criminalidade já visto na ilha caribenha. Os confrontos envolvem duas grandes facções de gangues a G9 e a G-Pep num embate sem precedentes em Cité Soleil, a maior favela haitiana, que fica na capital do país Porto Príncipe.

Segundo a representante especial do secretário-geral, “essa violência faz parte de estratégias bem definidas para subjugar populações e expandir o controle territorial”, citando o assassinato deliberado de homens, mulheres e crianças por franco atiradores.

No último ano, o Haiti registrou um crescimento de deslocados de mais de 56%. Agora com 155.166 desalojados, a situação confirma a piora de uma tendência que se observa desde 2020.
© PAHO/WHO
No último ano, o Haiti registrou um crescimento de deslocados de mais de 56%. Agora com 155.166 desalojados, a situação confirma a piora de uma tendência que se observa desde 2020.

Táticas brutais

Dezenas de mulheres e crianças haitianas, de até 10 anos, também foram brutalmente estupradas como uma tática para espalhar o medo e destruir o tecido social das comunidades sob o controle de gangues rivais.

Além disso, as facções criminosas estão sitiando e deslocando populações inteiras que já vivem em extrema pobreza, bloqueando intencionalmente o acesso à comida, água, e aos serviços de saúde, em meio a um surto de cólera.

Quase cinco milhões de haitianos estão passando fome aguda. Embora a maioria das escolas esteja funcionando, milhares de crianças, especialmente aquelas que vivem em áreas afetadas por gangues, ainda não iniciaram o ano letivo.

Envio de força especializada

Helen la Lime reiterou seus apelos para o envio de uma força especializada internacional para auxiliar a Polícia Nacional do Haiti.

Essa força foi solicitada, pela primeira vez pelo Governo, em outubro, mas ainda não se concretizou. Ela afirma que os haitianos querem essa assistência “para que possam levar suas vidas diárias em paz.”

Segundo ela, a Polícia Nacional do Haiti “continua com poucos recursos e insuficientemente equipada para enfrentar a enormidade da tarefa que tem pela frente”.

Criança com cólera é tratada em um hospital em Porto Príncipe, no Haiti
© Unicef/Odelyn Joseph
Criança com cólera é tratada em um hospital em Porto Príncipe, no Haiti

Sanções

A representante especial parabenizou a adoção pelo Conselho de Segurança de um novo regime de sanções para aqueles que apoiam atividades criminosas e violência de grupos armados no Haiti, assim como novas sanções bilaterais.

Ela também elogiou o progresso iniciado para a realização de eleições até fevereiro de 2024.

Para Helen La Lime, o Haiti “precisa urgentemente ver aqueles em posições de influência e liderança, seja em nível nacional ou local, incluindo a diáspora, deixar de lado suas diferenças e fazer sua parte para a restauração das instituições estatais legítimas”.