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África Ocidental e Central podem atingir recorde histórico de pessoas passando fome

Mulheres fazem fila para receber cartões de beneficiários para comprar farinha fortificada para prevenir a desnutrição em Kongoussi, Burkina Faso
© PMA/Cheick Omar Bandaogo
Mulheres fazem fila para receber cartões de beneficiários para comprar farinha fortificada para prevenir a desnutrição em Kongoussi, Burkina Faso

África Ocidental e Central podem atingir recorde histórico de pessoas passando fome

Ajuda humanitária

ONU quer ação urgente na região que enfrenta mais um ano com níveis catastróficos de insegurança alimentar; previsão para 2023 é de 48 milhões de famintos incluindo 9 milhões de crianças.

Um apelo para mais apoio e investimentos em programas de segurança alimentar foi feito por várias agências da ONU para o centro e o oeste da África.

A iniciativa é da FAO, do Unicef, e do Programa Mundial de Alimentos, PMA.

Período de fome catastrófica

A ONU estima que no próximo ano, a região possa bater um recorde histórico de 48 milhões de pessoas passando fome, incluindo 9 milhões de crianças, se nada for feito.

As agências pedem soluções urgentes e duradouras para enfrentar a crise e reduzir o risco de mais pessoas sofrendo com uma insegurança alimentar catastrófica.

A última análise mostra que cerca de 8% da população avaliada, incluindo 6,7 milhões de crianças, na região, são atualmente incapazes de satisfazer suas necessidades básicas de alimentação e nutrição.

Mulheres deslocadas internamente participam de avaliação da fome do PMA no estado de Borno, na Nigéria.
© WFP/Arete/Siegfried Modola
Mulheres deslocadas internamente participam de avaliação da fome do PMA no estado de Borno, na Nigéria.

Lago Chade e estoques de safra

A situação é particularmente preocupante nas áreas afetadas por conflitos no Lago Chade e na região de Liptako-Gourma, em Burkina Fasso, Mali e Níger, onde 25,5 mil pessoas passarão fome durante a estação de escassez de junho a agosto de 2023.

Este é o período do ano em que os estoques de alimentos da safra anterior se esgotam e as famílias lutam para suprir suas necessidades alimentares básicas até a próxima colheita.

Aumento da insegurança alimentar

Em Benin, Costa do Marfim, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Libéria, Serra Leoa e Togo, a análise revela um aumento de 20% na insegurança alimentar no último trimestre de 2022, em comparação com o mesmo período do ano passado.

Somente na Nigéria, 25 milhões de mulheres, homens e crianças enfrentam insegurança alimentar moderada ou pior, o que significa que podem facilmente cair em uma situação de emergência se nenhuma resposta imediata for fornecida.

Um bebê de sete meses é tratado para desnutrição em um centro de saúde no estado de Yobe, Nigéria.
PMA/Arete/Damilola Onafuwa
Um bebê de sete meses é tratado para desnutrição em um centro de saúde no estado de Yobe, Nigéria.

Último alerta a governos e parceiros

O diretor regional do PMA para a região da África Ocidental, Chris Nikoi, disse que “as perspectivas de segurança alimentar e nutricional para 2023 são extremamente preocupantes e este deve ser o último alerta para os governos da região e seus parceiros”.

Apesar da expectativa de boa colheita, melhoria da situação do mercado e aumento das estimativas de produção de cereais, a insegurança alimentar e a desnutrição persistem e estão se espalhando do Sahel para os países costeiros.

As causas são insegurança persistente, choques climáticos, altos preços dos alimentos, as consequências econômicas do Covid-19, e o impacto do conflito na Ucrânia.

O coordenador sub-regional da FAO para a África Ocidental, Robert Guei, “está vendo a disponibilidade de alimentos diminuir na maioria dos países e os preços dos fertilizantes estão subindo”.

Desnutrição infantil

A declaração conjunta adverte que apesar dos esforços dos governos e seus parceiros, a desnutrição aguda em crianças menores de cinco anos é preocupante, particularmente nos países do Sahel e na Nigéria.

Conflito, deslocamento populacional, acesso limitado a serviços sociais básicos, incluindo assistência médica, educação, água, higiene e saneamento, dietas nutritivas inacessíveis estão entre as causas subjacentes da desnutrição aguda em crianças menores de cinco anos, grávidas e lactantes em toda a região.

A diretora regional do Unicef para a África Ocidental e Central, Marie-Pierre Poirier, afima que é preciso “ampliar o tratamento e dar muito mais atenção à prevenção da desnutrição infantil por meio de uma abordagem multissetorial para atingir todas as crianças”.