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Violência no Sudão do Sul continua deslocando milhares de pessoas

Sudaneses do Sul deslocados em Malakal carregam seus pertences restantes em uma caminhonete do Acnur para serem transportados a um local para deslocados internos
© Acnur/Charlotte Hallqvist
Sudaneses do Sul deslocados em Malakal carregam seus pertences restantes em uma caminhonete do Acnur para serem transportados a um local para deslocados internos

Violência no Sudão do Sul continua deslocando milhares de pessoas

Migrantes e refugiados

Crise de refugiados já é a maior da África; desde agosto foram mais de 20 mil deslocados; Acnur, parceiros da ONU e ONGs ampliaram resposta aos mais vulneráveis.

A Agência da ONU para Refugiados, Acnur, informou nesta na quarta-feira que o conflito armado na região do Grande Nilo Superior do Sudão do Sul, deslocou pelo menos 20 mil pessoas desde agosto.

A crise de refugiados no mais jovem país do mundo já é a maior da África. Segundo a agência, mais pessoas continuam fugindo de suas casas, conforme o conflito se intensifica. Pelo menos 3 mil sul-sudaneses já fugiram para o vizinho Sudão.

Família no Sudão do Sul
© WFP/Gabriela Vivacqua
Família no Sudão do Sul

Deslocados estão traumatizados

Segundo o representante do Acnur, Arafat Jamal, “os civis estão sob ataque” e é preciso garantir proteção. Mulheres, crianças e outras pessoas em alto risco são a maioria dos deslocados. Alguns dos que não conseguiram fugir, incluindo idosos, se esconderam durante os ataques.

De acordo com Jamal, civis em fuga estão visivelmente traumatizados e relatam assassinatos, ferimentos, violência de gênero, sequestros, extorsão, saques e queima de propriedades. Muitos perderam suas casas e foram separados de suas famílias.

No mês passado, ele liderou uma visita à ilha de Adidiang, que está sob proteção da Missão da ONU no Sudão do Sul, Unmiss, o local foi originalmente criado há quase 10 anos para abrigar até 12 mil deslocados internos. Hoje, acomoda cerca de 37 mil, e estava superlotada mesmo antes dos recém-chegados.

Foi a primeira visita da ONU ao campo desde um ataque em 7 de setembro, quando cerca de 4 mil civis abrigados lá foram forçados a fugir para Malakal. Sobreviventes do ataque relataram que dezenas foram mortos ou feridos, enquanto outros se afogaram no rio ao tentar escapar.

Mulheres alimentam seus filhos em um centro de nutrição no Sudão do Sul. Desde 2014, o número de pessoas que passam fome tem aumentado
© PMA
Mulheres alimentam seus filhos em um centro de nutrição no Sudão do Sul. Desde 2014, o número de pessoas que passam fome tem aumentado

Aumento da ajuda humanitária

O Sudão do Sul tem lutado para acabar com a violência entre grupos armados e forças militares desde que o chamado Acordo de Paz Revitalizado foi assinado em 2018. A implementação tem sido lenta.

O Acnur, parceiros da ONU e ONGs ampliaram sua resposta para fornecer apoio vital aos mais vulneráveis com abrigo, itens de emergência, serviços de proteção, dinheiro e outros tipos de assistência.

Recentemente foram adquiridos barcos fluviais para melhorar a mobilidade, e poder alcançar as pessoas com mais rapidez e facilidade, incluindo aquelas em áreas remotas e de difícil acesso.

Apesar do apoio para reduzir as tensões e promover a paz, a situação continua a se deteriorar. Conflitos armados, violência localizada, inundações dramáticas, agravamento da insegurança alimentar e desestabilização econômica deixaram 6,8 milhões de pessoas necessitadas de ajuda urgente para salvar vidas.

À medida que mais pessoas fogem da violência, as necessidades aumentam, e o Acnur está ampliando sua resposta em meio a um grave déficit de financiamento. No final de novembro, apenas 46% dos US$ 214,8 milhões necessários para este ano haviam sido recebidos.

Crianças deslocadas caminham em área inundada no Sudão do Sul.
Foto: © UNMISS/JC McIlwaine
Crianças deslocadas caminham em área inundada no Sudão do Sul.

Impactos arrasadores

O coordenador humanitário interino da ONU, Peter Van der Auweraert, alertou que a comunidade humanitária no Sudão do Sul está “horrorizada com a violência contínua que tem um impacto arrasador nas vidas e nos meios de subsistência de mulheres, homens e crianças”.

Os confrontos que eclodiram em meados de novembro também resultaram em mortes e ferimentos de civis, sequestro de mulheres e crianças, destruição de propriedades e meios de subsistência, assim como incidentes relatados de violência de gênero.

Ele disse que “os parceiros humanitários estão trabalhando incansavelmente, 24 horas por dia, em várias linhas de frente para fornecer às pessoas recém-deslocadas suprimentos e serviços essenciais”.

Peter Van der Auweraert pede que as hostilidades cessem imediatamente para reduzir o sofrimento humano e evitar mais perdas de vidas inocentes.