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Mundo negocia tratado para salvar oceanos da superexploração BR

Um dos alvos do tratado é impulsionar ação para garantir a conservação e o uso sustentável dos oceanos
Coral Reef Image Bank/Alexander
Um dos alvos do tratado é impulsionar ação para garantir a conservação e o uso sustentável dos oceanos

Mundo negocia tratado para salvar oceanos da superexploração

Clima e Meio Ambiente

Meta é aumentar 25 vezes a área de conservação dos mares; sobrepesca, transporte marítimo e alterações do clima ameaçam zonas livres para pesca, transporte e pesquisa internacionais; ONU quer mais ação para assegurar defesa e uso sustentável.

Representantes de todo o mundo iniciaram, na sede da ONU em Nova Iorque, duas semanas de negociações para salvar os oceanos da superexploração. Os participantes estarão reunidos até 26 de agosto na 5ª Conferência Intergovernamental sobre a Biodiversidade Marinha em Zonas Fora da Jurisdição Nacional.

Em discussão está o Tratado de Alto Mar da ONU, documento que vem sendo ajustado, há uma década, no âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. A meta é que 30% dos oceanos sejam inclusos em áreas de conservação até 2030. Atualmente somente 1,2% está protegido.

ODS 14

O tema da conservação e utilização sustentável da diversidade biológica marinha está associado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14 sobre a conservação e utilização sustentável dos oceanos, mares e recursos marinhos.

Corais podem apoiar atividades econômicas, como pesca
Coral Reef Image Bank/Rick Miski
Corais podem apoiar atividades econômicas, como pesca

 

A expectativa é que o um tratado assegure a proteção da vida marinha de atividades como pesca excessiva e ações humanas como o tráfego marítimo que, aliadas à ameaça das mudanças climáticas, ameaçam a vida marinha.

Durante a Conferência dos Oceanos, em Lisboa, a ONU News conversou com o enviado especial dos Oceanos, Peter Thomson, que disse acreditar em consensos. 

Para Thomson, o consenso será alcançado mesmo em documento com aparentes brechas. Ele disse esperar harmonia internacional em Montreal, no Canadá, em dezembro, quando ocorrerá a Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade, COP 15. Thomson afirma que nenhum grupo de representantes ou países-membros quer ser exceção depois de consensos anteriores. 

Peixe recém-capturado chega à Cooperativa de Pesca artesanal de Santa Rosa de Salinas, Equador
FAO/Camilo Pareja
Peixe recém-capturado chega à Cooperativa de Pesca artesanal de Santa Rosa de Salinas, Equador

Alerta vermelho 

Após apontar que é sempre um problema enfrentar o conjunto de questões, Thomson acredita que nunca se opera de forma isolada em momento de consensos. Ele ressalta que o grande motor dessa concordância é o “alerta vermelho” lançado pelo secretário-geral sobre os riscos para a vida marinha. Peter Thomson acha que este ano fará a diferença com acordos sobre a proteção da vida nos oceanos.

Para a comunidade científica, a ameaça de ecossistemas em alto mar que foram mal documentados é uma das maiores preocupações. O risco é que muitos deles desapareçam  antes mesmo de serem descobertos. Pelas estimativas, entre 10% e 15% das espécies marinhas já estão em risco de extinção.

O subsecretário-geral dos Assuntos Jurídicos da ONU, Miguel de Serpa Soares, disse que a reunião que agora acontece em Nova Iorque marca uma das várias frentes de atuação em defesa dos oceanos em sessão rica em discussões sobre os mares.

Pescador na ilha de Adonara, na Indonésia
Foto: © Renee Capozzola
Pescador na ilha de Adonara, na Indonésia

 

Serpa Soares explicou como se enquadra a negociação do novo tratado sobre biodiversidade marítima para áreas além dos territórios.

Pesca

“O nome parece muito complicado, mas isso se refere aos 70% dos oceanos que estão fora das áreas de jurisdição nacional. O seguimento dos dois acordos de princípios já alcançados este ano, a questão dos plásticos no oceano e a questão na Organização Internacional do Comércio sobre subsídios à pesca. Este é o princípio de um longo processo que vai continuar pelos anos.”

Um dos alvos do tratado é impulsionar ação para garantir a conservação e o uso sustentável do oceano para as futuras gerações para pessoas que dependem dos mares para sua alimentação, renda e atividades de lazer.

De acordo com a ONU, atualmente dois terços dos oceanos do mundo são considerados águas internacionais onde os países têm o direito de pescar, transportar e pesquisar. 
A pandemia foi um dos fatores que atrasou a reunião internacional. Um dos pontos de agenda é resolver os desacordos sobre o que deve ser incluído no futuro tratado legal.
 

Pescador no Quênia.
Foto: © UNDP/Amunga Eshuchi
Pescador no Quênia.