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Niclevicz foi o primeiro brasileiro a chegar ao topo do Everest, a montanha mais alta do mundo com 8.848 metros de altitude, em 1995

Turismo na montanha: alpinista brasileiro pede respeito ao ecossistema BR

Mozart Catao
Niclevicz foi o primeiro brasileiro a chegar ao topo do Everest, a montanha mais alta do mundo com 8.848 metros de altitude, em 1995

Turismo na montanha: alpinista brasileiro pede respeito ao ecossistema

Clima e Meio Ambiente

Waldemar Niclevicz falou à ONU News, de Curitiba, sobre a declaração de 2022 como Ano Internacional do Desenvolvimento Sustentável da Montanha; montanhista comentou sobre a importância dos locais para o abastecimento de água no planeta e a necessidade de cuidados no turismo nesses destinos.

As Nações Unidas marcam em 2022 o Ano Internacional do Desenvolvimento Sustentável da Montanha. Para falar sobre os impactos que a mudança climática tem causado no ecossistema e o aumento do turismo em destinos montanhosos durante a pandemia, a ONU News conversou com o alpinista Waldemar Niclevicz.

Niclevicz foi o primeiro brasileiro a chegar ao topo do Everest, a montanha mais alta do mundo com 8.848 metros de altitude, em 1995. Além de vencer o destino icônico para muitos aventureiros, ele já escalou mais de 200 montanhas. O K2, no Paquistão, e o Aconcágua, na Argentina, também estão na lista.

O alpinista Waldemar Niclevicz escalando o Cerro Torre, uma montanha da Patagônia, na América do Sul
Arquivo Pessoal/Waldemar Niclevicz
O alpinista Waldemar Niclevicz escalando o Cerro Torre, uma montanha da Patagônia, na América do Sul

Turismo sustentável

De acordo com dados de agências das Nações Unidas, com as restrições de viagens causadas pela pandemia de Covid-19, mais turistas buscaram destinos ao ar livre e em lugares remotos. Os aventureiros querem isolamento e contato com a natureza.

No entanto, com o fluxo maior de pessoas, foi observado o aumento de lixo nesses locais. Uma pesquisa do Programa Mundial para o Meio Ambiente, Pnuma, revelou que quase a totalidade de turistas viram lixo e resíduos ao caminharem pela natureza. 

Niclevicz durante a escalada do K2, em 1998
Arquivo Pessoal/Waldemar Niclevicz
Niclevicz durante a escalada do K2, em 1998

 

O alpinista brasileiro reforça que as montanhas abrigam quase metade de todos os principais pontos da biodiversidade. Além disso, elas fornecem ainda água doce, todos os dias, para metade da humanidade.

“É uma forma de alertar a humanidade da importância das montanhas para todo o planeta, principalmente para o ser humano e para nossa sobrevivência. Devido, principalmente, o aspecto fundamental que é ser fonte de água. Não só para países onde tem glaciares no alto das montanhas, mas também para países tropicais como o nosso, onde temos florestas nas montanhas. Essa floresta representa também uma verdadeira caixa d’água porque ela retém a água da chuva, alimenta os lençóis freáticos e garante a sobrevivência de grandes cidades, principalmente no Brasil, que estão próximas a montanha. São Paulo depende da água da Serra do Mar, Rio de Janeiro, Curitiba – onde eu moro.”

Por isso, o montanhista afirma que a conscientização e proteção desses locais devem estar cada vez mais em evidência. Além do Ano Internacional, o Dia Internacional da Montanha é comemorado anualmente em dezembro com o mesmo objetivo de promover a sustentabilidade nas áreas, que abrigam 15% da população mundial.

Waldemar Niclevicz nos Alpes de Mischabel na Suiça
Arquivo Pessoal/Waldemar Niclevicz
Waldemar Niclevicz nos Alpes de Mischabel na Suiça

Niclevicz afirma que, com a destruição da natureza, as montanhas são os refúgios que restaram para quem busca estar perto de áreas verdes.

“Nos últimos anos, na última década absolutamente com certeza, o homem começou a buscar mais a natureza. Já começou a buscar mais um contato com seu ambiente primitivo e com as montanhas. Porque, como eu já comentei, o que restou de natureza intocada e ainda primitiva está nas montanhas. O que estava fácil de acesso o homem destruiu, ocupou, construiu cidades, usou para a agricultura e continua usando. Aqueles espaços que não puderam ser ocupados viraram refúgios naturais. São as montanhas. Então, quando alguém sente vontade de caminhar numa floresta, essa floresta está hoje na montanha. Quando ele sente vontade de tomar um banho de cachoeira, essa cachoeira, ou esse rio limpo onde ainda se pode tomar um banho ou sua água, está na montanha.” 

Cuidados com a montanha

Waldemar Niclevicz no topo do Vulcão Puntiagudo na Patagonia Chilena, em setembro de 2017
Arquivo Pessoal/Waldemar Niclevicz
Waldemar Niclevicz no topo do Vulcão Puntiagudo na Patagonia Chilena, em setembro de 2017

 

Ainda sobre o crescimento do turismo, o alpinista não vê como um problema. No entanto, ele entende que a falta de cuidado dos visitantes, assim como a falta de preparo e respeito para enfrentar os desafios da montanha, podem acelerar a degradação dos locais.

“Ao procurar esse ambiente natural percebeu-se que esse visitante moderno, e esse turista moderno, ele não está preparado para visitar um ambiente natural. Ele não tem um comportamento adequado. Essa pessoa joga lixo, essa pessoa retira plantas, essa pessoa destrói a natureza, corta e abre trilhas ou desloca pedras. Abre atalhos. E o ambiente da montanha é extremamente instável. Esse ecossistema atingiu seu equilíbrio durante muito tempo. O fluxo de pessoas que tem que ser moderado. Não é um lugar para uma visitação intensa. Eu conheço boa parte das montanhas do mundo. Quando você vê na montanha alguém com carregando uma caixa de som na mochila, bebendo, fumando, andando de óculos escuros no meio da floresta. Esse não é um verdadeiro montanhista. Esse é um turista que, naquele final de semana, resolveu extravasar na montanha. Ele vai deixar vidro, ele vai deixar lixo. Ele vai gritar, ele vai levar um facão para cortar o mato.”

Sobre a quantidade de lixo, o Pnuma também possui uma ação com o alpinista nepalês Nirmal Purja. Durante a expedição ao Monte Manaslu do Nepal, a oitava montanha mais alta do mundo, Purja e sua equipe juntaram 500 kg de lixo. Eles buscam fazer o mesmo no Monte Everest e Ama Dablam, no Nepal e no K2, no Paquistão.

Para encerrar, Niclevicz afirmou que espera que o ano dedicado às montanhas ajude na conscientização de todos, desde guias e agências, até os governos e a administração dos parques onde elas estão.

O alpinista brasileiro lembra que esses locais são muito especiais, mas muito delicados e exigem cuidados. Para ele, todo o esforço deve ser colocado para manter o ambiente no seu estado mais natural possível, garantindo que continue existindo para as futuras gerações.