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Ex-oficial de Inteligência da Síria é condenado à prisão perpétua por crimes contra a humanidade BR

Crianças andam em área em ruínas ao retornarem de escola na Síria.
Foto: © UNOCHA/Ali Haj Suleiman
Crianças andam em área em ruínas ao retornarem de escola na Síria.

Ex-oficial de Inteligência da Síria é condenado à prisão perpétua por crimes contra a humanidade

Legislação e prevenção de crimes

Integrantes da Comissão de Inquérito da ONU apoiam o veredito anunciado por tribunal da Alemanha; Anwar R. foi considerado culpado de “matar, torturar e abusar sexualmente” de dezenas de pessoas entre 2011 e 2012. 

A Comissão Independente de Inquérito da ONU sobre a Síria saudou o veredito anunciado por um tribunal da Alemanha, que condenou o ex-oficial de Inteligência sírio Anwar R. por crimes contra a humanidade e recebeu como sentença a prisão perpétua. 

Apesar da decisão, o grupo de especialistas das Nações Unidas divulgou uma declaração nesta quinta-feira afirmando que “é preciso fazer mais para se alcançar justiça a todas as vítimas e sobreviventes da Síria”.

Tortura e abuso sexual 

Presidente da Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre a Síria, Paulo Sérgio Pinheiro.
ONU/Jean-Marc Ferré
Presidente da Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre a Síria, Paulo Sérgio Pinheiro.

O tribunal considerou Anwar R. culpado dos seguintes crimes contra a humanidade: “mortes, tortura, séria privação da liberdade, estupro e abuso sexual em combinação com assassinatos em 27 casos, causando sérios danos físicos em 25 casos e estupros em dois casos”. Ele também foi condenado pelo sequestro de duas pessoas e por abusar de três prisioneiros. 

O presidente da Comissão de Inquérito da ONU sobre a Síria, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, declarou que este veredito “representa um progresso essencial para o alcance da justiça a todas as vítimas de crimes de guerra na Síria”.

Mas Pinheiro destacou que o caminho para a responsabilização nesses casos “continua reduzido na Síria e no Conselho de Segurança”. Anwar R. foi ainda acusado de cumplicidade na tortura de milhares de pessoas entre 2011 e 2012 em uma das sedes da Inteligência Geral Síria, na capital Damasco.

Lei da Alemanha

Comissão Internacional Independente de Inquérito para a Síria, presidida pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, tem documentado graves violações de direitos humanos.
Acnur/Christopher Reardon
Comissão Internacional Independente de Inquérito para a Síria, presidida pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, tem documentado graves violações de direitos humanos.

Em fevereiro do ano passado, o mesmo tribunal condenou Eyad A., um colega de Anwar R. a quatro anos e meio de prisão por ajudar a cometer crimes contra a humanidade. Aquela foi a primeira vez em que um ex-funcionário dos serviços de inteligência da Síria estava sendo condenado pela jurisdição de um outro país, num caso relacionado ao conflito sírio. 

Durante o julgamento, três relatórios da Comissão de Inquérito foram utilizados como evidência. Cooperação de vítimas, de testemunhas e de ativistas na Alemanha foram essenciais durante os procedimentos. 

Em 2002, a Alemanha adotou um Código de Crimes contra a Lei Internacional, permitindo que os tribunais do país julguem estes tipos de crimes cometidos em outras nações, independente dos acusados ou das vítimas serem ou não alemães, sob o princípio da jurisdição universal. 

A Comissão de Inquérito nota que esforços para condenar responsáveis por estes crimes precisam continuar, com os países garantindo que exista financiamento adequado, outros recursos e sistemas legislativos.

O grupo lembra que “tortura, tratamento cruel, estupros e desaparecimentos forçados continuam ocorrendo na Síria”, como já documentado em mais de 20 relatórios regulares e 13 relatórios temáticos. Calcula-se que mais de 100 mil pessoas continuam desaparecidas devido ao conflito no país.