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ONU: 87% do valor de subsídios agrícolas distorce preços e é nocivo ao ambiente BR

Produtores plantam batatas no Afeganistão.
Foto: ADB/Jawad Jalali
Produtores plantam batatas no Afeganistão.

ONU: 87% do valor de subsídios agrícolas distorce preços e é nocivo ao ambiente

Desenvolvimento econômico

Levantamento de agências das Nações Unidas mostra que US$ 470 bilhões destinados aos produtores estão sendo mal empregados; agricultura é um dos setores que mais contribuem para mudança climática por meio de emissões de gases; ONU quer reaproveitamento dos incentivos para o alcance da Agenda 2030. 

O apoio global para produtores do setor agrícola gira em torno de US$ 540 bilhões ao ano, ou 15% do valor total da produção agrícola. Mas um estudo divulgado, esta terça-feira, por várias agências da ONU mostra que 87% desse dinheiro está sendo mal empregado. 

São cerca de US$ 470 bilhões que acabam por “distorcer preços e causar danos ao meio-ambiente e à sociedade”. Por isso, as agências estão pedindo que este valor dos subsídios agrícolas seja melhor empregado, para que o mundo possa alcançar a Agenda 2030 do Desenvolvimento Sustentável.   

Plantação de arroz nas Filipinas.
Foto: © FAO/Lena Gubler
Plantação de arroz nas Filipinas.

Oportunidade Multi-Bilionária  

O relatório “Uma oportunidade Muti-Bilionária: Reaproveitando o Apoio Agrícola para Transformar os Sistemas Alimentares” é uma publicação conjunta da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO; para o Programa da ONU para o Desenvolvimento, Pnud e o Programa da ONU para o Meio-Ambiente, Pnuma.  

Segundo a pesquisa, a maior parte dos subsídios agrícolas, ou US$ 470 bilhões, consistem de incentivos, como tarifas de importação e subsídios de exportação, além de subsídios fiscais ligados à produção de commodities ou mercadorias. 

Pela análise das agências da ONU, isso distorce os preços dos alimentos, tem um impacto negativo na saúde das pessoas, destrói o meio ambiente e coloca grandes produtores agrícolas com uma enorme vantagem sobre pequenos agricultores.  

Pessoas famintas  

O relatório aponta ainda que no ano passado, 811 milhões de pessoas enfrentavam fome crônica e um entre três habitantes do planeta (2,37 bilhões) não tinha acesso à comida adequada durante todo o ano.  

O estudo nota ainda que apesar da maior parte dos subsídios agrícolas ter um impacto negativo, cerca de US$ 110 bilhões são utilizados para apoiar infraestrutura, pesquisa e desenvolvimento. 

Mas se houver uma reconfiguração completa do apoio aos produtores agrícola, será possível erradicar a fome, garantir segurança alimentar, melhorar a nutrição e promover a produção e o consumo sustentáveis. Com isso, os efeitos da mudança climática serão menos severos, limitando a poluição e ajudando a reduzir desigualdades.  

Mulher vende batatas no Peru.
Foto: © IFAD/P. Vega
Mulher vende batatas no Peru.

Transformação do setor  

O diretor-geral da FAO, Qu Dongyu, declarou que o relatório “é um alerta para os governos repensarem a maneira como empregam os subsídios agrícolas e fazerem com que os incentivos sejam utilizados para transformar o setor da agricultura”. 

O chefe da FAO acredita que redistribuir o dinheiro em uma direção mais sustentável contribuirá para “melhor nutrição, melhor produção, melhor meio-ambiente e para uma vida melhor”. 

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O setor agrícola é um dos que mais contribuem para a mudança climática por meio de emissões de gases de efeito estufa. Essas emissões são causadas por estrume nos pastos, fertilizantes sintéticos, cultivo de arroz e mudanças no uso das terras.  

Calor extremo 

Ao mesmo tempo, os produtores também estão vulneráveis aos impactos da mudança climática, incluindo calor extremo, aumento do nível do mar, secas, enchentes e ataques de gafanhotos.  

As agências da ONU avaliam que se os subsídios agrícolas continuarem sendo empregados da mesma maneira, a tripla crise planetária irá piorar. 

A indicação aos países de renda alta é para redirecionarem o apoio às indústrias de carnes e de laticínios, que causam 14,5% das emissões de gases. 

Já os governos dos países de baixa renda precisam rever o apoio financeiro a pesticidas tóxicos e fertilizantes.  

O lançamento do relatório acontece antes da Conferência dos Sistemas Alimentares, marcada pelo secretário-geral da ONU para o dia 23 de setembro.