Perspectiva Global Reportagens Humanas

Álcool é principal causa de morte de 85 mil pessoas por ano nas Américas  BR

Beber muito, ou com muita frequência, aumenta o risco imediato de ferimentos, assim como efeitos de longo prazo como lesões no fígado, câncer, doenças de coração e doenças mentais.
OMS/Sergey Volkov
Beber muito, ou com muita frequência, aumenta o risco imediato de ferimentos, assim como efeitos de longo prazo como lesões no fígado, câncer, doenças de coração e doenças mentais.

Álcool é principal causa de morte de 85 mil pessoas por ano nas Américas 

Saúde

Estudo da Organização Pan-Americana da Saúde, Opas, revela que consumo de álcool leva a mais de 300 mil óbitos, por ano, na região, de doenças relacionadas; pesquisa foi publicada na revista científica Addiction; agência da ONU afirma que tema é prioridade de saúde pública. 

O consumo de álcool foi a causa principal de 85 mil mortes nas Américas, todos os anos, entre 2013 a 2015. A região tem um consumo per capita 25% superior à média global.  

Essas são algumas conclusões de um estudo da Organização Pan-Americana da Saúde, Opas, divulgado na segunda-feira na revista científica Addiction. 

Importância 

O diretor de Doenças Crônicas e Saúde Mental da Opas,  Anselm Hennis, diz que “este estudo demonstra que o uso nocivo de álcool nas Américas é uma grande prioridade de saúde pública.” 

Durante a pandemia de Covid-19, o álcool foi promovido por meio de canais de mídias sociais e sua disponibilidade aumentou em muitos países
OMS China
Durante a pandemia de Covid-19, o álcool foi promovido por meio de canais de mídias sociais e sua disponibilidade aumentou em muitos países

Segundo Hennis, o álcool “está associado a mortes evitáveis e a muitos anos de vida vividos com deficiências.” Para ele, a região precisa de intervenções, políticas e programas eficazes, viáveis e sustentáveis para reduzir o consumo. 

Essa é a maior investigação já feita na região com dados de mortalidade em 30 países.  

Conclusões 

A média de 85.032 mortes anuais, cerca de 1,4% do total, foram atribuídas exclusivamente ao álcool. A maioria dos óbitos, 64,9%, ocorreu entre pessoas com menos de 60 anos. 

As causas de morte foram principalmente por doença hepática, 63,9%, e distúrbios neuropsiquiátricos, 27,4%, como dependência de álcool.  

O consumo também é um fator em mais de 300 mil mortes anuais nas Américas, cerca de 5,5% do total.  

Os homens são mais afetados que as mulheres, com 83,1% das mortes exclusivamente atribuíveis a esse consumo. As maiores disparidades de gênero ocorreram em El Salvador e Belize e as menores nos Estados Unidos e no Canadá.  

Cerca de 80% dos óbitos onde o álcool foi um “fator importante” ocorreram em três dos países mais populosos: Estados Unidos, 36,9%, Brasil, 24,8%, e México, 18,4%.  

As taxas de mortalidade foram mais altas na Nicarágua com 23,2 em cada 100 mil pessoas, e na Guatemala, onde atingiu 19 em cada 100 mil.  

Diferenças 

Os países de alta renda têm maior consumo per capita, mas, para o mesmo nível de consumo, as nações de baixa e média renda demonstram uma taxa maior de classificação de mortalidade causada pelo álcool.  

Segundo a pesquisa, isso acontece devido ao acesso comparativamente mais precário a serviços, informações médicas de saúde e boa nutrição, bem como transporte limitado em emergências e outros fatores que podem tornar o consumo de álcool mais nocivo. 

A Opas pede aos países da região que aumentem os impostos sobre bebidas alcoólicas e implementem restrições à sua publicidade, promoção e patrocínio. 

Impacto 

Segundo a agência, melhorar a qualidade dos dados sobre a mortalidade e morbidade do álcool é fundamental para monitorar o impacto do consumo. 

Os homens são mais afetados que as mulheres, com 83,1% das mortes exclusivamente atribuíveis a esse consumo
OMS/Opas
Os homens são mais afetados que as mulheres, com 83,1% das mortes exclusivamente atribuíveis a esse consumo

Anselm Hennis diz que “outra medida simples, mas eficaz, é limitar o horário de vendas do álcool e reduzir a concentração de pontos de venda em uma comunidade.”  

A consultora-sênior da Opas sobre álcool, Maristela Monteiro, destaca que o problema afeta desproporcionalmente pessoas de 50 a 59 anos, dizendo que “o uso prejudicial de álcool está matando pessoas no auge de suas vidas.” 

Segundo ela, “esta é uma perda não apenas para suas famílias, mas também para a economia e a sociedade em geral.” 

Pandemia 

Durante a pandemia de Covid-19, o álcool foi promovido por meio de canais de mídias sociais e sua disponibilidade aumentou em muitos países devido ao acesso mais fácil a compras online e entrega em domicílio. 

Segundo a Opas, existem evidências de que as pessoas com maior probabilidade de aumentar o consumo de álcool já bebiam excessivamente antes da pandemia. 

Além disso, locais que vendem bebidas alcoólicas, como bares e casas noturnas, estão atraindo multidões que não usam máscaras nem praticam o distanciamento social.