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Chefe humanitário diz que prioridade no Iêmen é evitar uma fome massiva  BR

Criança brinca em assentamento para deslocados internos em Al-Dhale
Ocha/Mahmoud Fadel
Criança brinca em assentamento para deslocados internos em Al-Dhale

Chefe humanitário diz que prioridade no Iêmen é evitar uma fome massiva 

Ajuda humanitária

No Conselho de Segurança, funcionários da ONU alertaram para efeitos negativos da decisão dos Estados Unidos de declarar o grupo Ansar Allah, também chamado de houthis, como entidade terrorista; apelo de ajuda humanitária recebeu apenas metade dos fundos no ano passado. 

O subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Mark Lowcock, disse ao Conselho de Segurança que “a prioridade mais urgente no Iêmen agora é evitar uma fome massiva.” 

Os dados mostram que 16 milhões passarão fome este ano. Cerca de 50 mil pessoas já estão nesta situação. Outros 5 milhões já se encontram na iminência de fome. 

O convidado da entrevista da OMS a jornalistas, nesta sexta-feira, foi o subsecretário-geral das Nações Unidas para Assuntos Humanitários, Mark Lowcock.
Subsecretário-geral das Nações Unidas para Assuntos Humanitários, Mark Lowcock., ONU/Manuel Elias

Perigos 

No domingo, os Estados Unidos anunciaram que vão declarar o grupo Ansar Allah como uma entidade terrorista. O grupo também é chamado de houthis. No comunicado do Departamento de Estado americano, Mike Pompeo, afirmou que o Ansar Allah é “uma milícia mortal apoiada pelo Irã” atuando no Iêmen. 

Durante meses, as agências humanitárias se opuseram à medida, pois acreditam que isso deve acelerar a fome no Iêmen em uma grande escala. 

Mark Lowcock explicou que o Iêmen importa 90% de seus alimentos, com quase toda a comida trazida por canais comerciais, e que as agências de ajuda não podem substituir esse sistema de importação. 

Nos últimos meses, o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários, Ocha, conversou com comerciantes para perceber o possível impacto da decisão dos Estados Unidos.  

Mercados e lojas 

Segundo Lowcok, eles disseram que “não tinham certeza se conseguiriam continuar importando alimentos nessas circunstâncias.” 

Nesse momento, muitos iemenitas já estão lotando em mercados e lojas para estocar tudo que podem. As famílias têm medo de ficar sem alimentos.  

Lowcock contou que alguns fornecedores, bancos, seguradoras e transportadores já afirmaram que pretendem sair do Iêmen porque o risco é muito alto. 

O chefe humanitário alertou para o risco “de uma fome em uma escala que não existe há quase 40 anos”, mas afirmou que ainda existe chance de uma reversão desta situação. 

A comida é necessária para prestar assistência alimentar a quase 12 milhões de pessoas na nação do Oriente Médio
© Unicef
A comida é necessária para prestar assistência alimentar a quase 12 milhões de pessoas na nação do Oriente Médio

Ataque 

Já o enviado especial da ONU para o Iêmen, Martin Griffiths, disse estar extremamente preocupado com o impacto da decisão americana. 

Segundo ele, “haverá, inevitavelmente, um efeito negativo nos esforços para reunir as partes.” Em qualquer caso, ele vai continuar conversando com todas as partes incluindo o grupo Ansar Allah.  

Griffiths disse ainda que 2020 terminou com uma nota angustiante para o Iêmen. Em 30 de dezembro, um ataque violento ao recém-formado governo causou  dezenas feridos e mortos, incluindo funcionários do governo, de ajuda humanitária e um jornalista. 

O enviado disse que “o ataque lançou uma sombra escura sobre o que deveria ter sido um momento de esperança nos esforços para alcançar a paz.” 

Processo de paz 

A formação do novo governo e seu retorno a Áden foi um marco importante para o Acordo de Riade e para a estabilidade das instituições do Estado, da economia e do processo de paz.  

Enviado especial da ONU para o Iêmen, Martin Griffiths.
Enviado especial da ONU para o Iêmen, Martin Griffiths, no Conselho de Segurança, ONU/ Manuel Elias

Griffiths afirmou que “o caminho para a paz no Iêmen nunca foi fácil, mas agora é muito mais difícil do que há um mês.” 

Ele disse ainda que é preciso manter o foco no objetivo principal, que é retomar um processo político inclusivo projetado para encerrar o conflito de forma abrangente. 

Segundo o enviado, “chegar a um acordo sobre um estado final político é de fundamental importância, porque é assim que a guerra termina.” 

Financiamento 

Em 2020, a ONU recebeu US$ 1,7 bilhão para seu plano de resposta, cerca de metade do que precisava. E menos da metade do que recebeu em 2019.  

Em anos anteriores, a operação ajudava 13,5 milhões de pessoas todos os meses, mas agora está ajudando pouco mais de 9 milhões. Menos dinheiro significa interromper programas importantes, incluindo ajuda alimentar.  

Mark Lowcock também informou que o plano de resposta 2021 será lançado no próximo mês e será semelhante ao plano do ano passado, cerca de US$ 3,4 bilhões.