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Relatores pedem a Israel que assegure imunização de palestinos contra Covid-19 BR

Em Israel, mulher mostra que foi vacinada contra Covid-19
Mohamed Yassin
Em Israel, mulher mostra que foi vacinada contra Covid-19

Relatores pedem a Israel que assegure imunização de palestinos contra Covid-19

Direitos humanos

Grupo elogiou país por ser o único a imunizar o maior número de cidadãos até agora; mas especialistas estão preocupados com vacinação para os moradores dos territórios palestinos de Gaza e Cisjordânia.

Relatores de direitos humanos* da ONU pediram a Israel que se responsabilize pela vacinação contra a Covid-19 dos palestinos que vivem em Gaza e na Cisjordânia.

Em comunicado, o grupo afirmou que o programa de vacinação israelense é impressionante sendo o único que conseguiu imunizar o maior número de cidadãos até o momento. 

Enfermeira prepara uma vacina em centro hospitalar de Ramallah, Territórios Palestinos.
Unicef/Ahed Izhiman
Enfermeira prepara uma vacina em centro hospitalar de Ramallah, Territórios Palestinos.

Pobreza endêmica

Mas de acordo com os relatores, enquanto os palestinos que vivem em Jerusalém Oriental estão recebendo a vacina, Israel precisaria assegurar que os moradores dos territórios de Gaza e Cisjordânia também terão acesso às doses contra a Covid-19.

A pandemia tem assolado os territórios palestinos nos últimos meses afetando o sistema de saúde, que já era carente e subfinanciado. 

Os especialistas da ONU disseram estar preocupados com a situação da deterioração da saúde em Gaza, que enfrenta um bloqueio de 13 anos, faltas sérias de eletricidade e de água e uma pobreza endêmica além de desemprego.

No comunicado, o grupo afirma que as vacinas encomendadas, separadamente, pela Autoridade Palestina podem levar várias semanas para chegar à Cisjordânia e à Gaza. Com isso, mais de 4,5 milhões de palestinos ficaram descobertos e expostos à doença. 

OMS informou que mais de 160 mil palestinos em Gaza e na Cisjordânia obtiveram resultado positivo no exame de Covid-19 desde o início da pandemia em março passado
OMS
OMS informou que mais de 160 mil palestinos em Gaza e na Cisjordânia obtiveram resultado positivo no exame de Covid-19 desde o início da pandemia em março passado

Convenção de Genebra

Já os israelenses que vivem perto incluindo os colonos serão vacinados. Para os relatores, essas diferenças no meio da pior crise global de saúde do século são inaceitáveis moral e legalmente.

A Organização Mundial da Saúde, OMS, informou que mais de 160 mil palestinos em Gaza e na Cisjordânia obtiveram resultado positivo no exame de Covid-19 desde o início da pandemia em março passado. Mais de 1,7 mil pessoas morreram. O número de casos e mortes tem subido nas últimas semanas.

Para os relatores como poder de ocupação, Israel tem a obrigação com base na Quarta Convenção de Genebra de manter os serviços de saúde da área. 

Já o artigo 56 requere que Israel adote e aplique as medidas profiláticas de combate e disseminação de doenças contagiosas em cooperação com autoridades locais uma vez que o direito à saúde é um direito fundamental.

Casas palestinas e assentamentos israelenses em Hebron, na Cisjordânia.
ONU News/Reem Abaza
Casas palestinas e assentamentos israelenses em Hebron, na Cisjordânia.

Acordos de Oslo

Os relatores de direitos humanos dizem que segundo alguns comentaristas israelenses, o tratamento diferenciado tem como base o Acordo Interino Israelense-Palestino de 1995, que é parte integral dos Acordos de Paz de Oslo.

Neles, as autoridades palestinas são responsáveis por imunizações.

Esses mesmos comentaristas lembram que durante a Guerra do Golfo, em 1991, a Suprema Corte de Israel ordenou a distribuição de máscaras de gás para todos os palestinos explicando que o comandante militar de Israel não poderia discriminar entre os residentes.

No comunicado, os especialistas pedem à Autoridade Palestina que cooperem com Israel na implementação de um programa de vacina contra a Covid-19.

As autoridades de saúde de Israel já instruíram todos os prisioneiros sob custódia no país a serem vacinados com prioridade por causa do risco de infecção entre os detentos.
 
*Os relatores de direitos humanos são independentes das Nações Unidas e não recebem salário por sua atuação.