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Mais de 100 líderes mundiais discutem perda da biodiversidade  BR

Segundo as Nações Unidas, mais de 3 bilhões de pessoas dependem da biodiversidade marinha e costeira para sua subsistência.
ONU Dia Mundial dos Oceanos/Grant Thomas
Segundo as Nações Unidas, mais de 3 bilhões de pessoas dependem da biodiversidade marinha e costeira para sua subsistência.

Mais de 100 líderes mundiais discutem perda da biodiversidade 

Clima e Meio Ambiente

Nações Unidas organizam esta quarta-feira primeiro Encontro de Cúpula da ONU sobre Biodiversidade; ONU News falou com a angolana Fernanda Samuel, finalista do prêmio Jovens Campeões da Terra 2020, sobre a importância deste encontro.

Mais de 100 líderes mundiais discutem esta quarta-feira como combater o declínio do número de espécies do planeta, que teve uma perda de 68% de vertebrados desde 1970. 

O objetivo do primeiro Encontro de Cúpula da ONU sobre Biodiversidade é preparar a Conferência das Partes da Convenção sobre Biodiversidade, COP15. No evento que acontecerá em Kunming, na China, em 2021, os líderes mundiais devem adotar um ambicioso plano de ação. 

Importância  

Antecipando a reunião sobre a biodiversidade, a ONU News falou com a angolana Fernanda Samuel, que é finalista do prêmio Jovens Campeões da Terra 2020, organizado pela Agência da ONU para o Meio Ambiente, Pnuma. 

A jovem de 28 anos destacou a importância do encontro para incentivar medidas concretas nesta área. 

“É importante discutir a biodiversidade ao mais alto nível para que os governos adotem políticas públicas que priorizem as práticas para proteção do ambiente. Ou seja, não se pode falar do combate à pobreza e crescimento econômico sem uma aposta séria na preservação dos recursos da fauna, da flora, dos solos, dos rios e os oceanos.” 

Angolana finalista de prêmio Jovens Campeões da Terra destaca importância de discutir biodiversidade

Engenheira de produção de petróleo, Fernanda trabalha em proteção ambiental, e é a fundadora do projeto, Otchiva. A iniciativa se dedica à proteção de mangais em Angola. 

Nos últimos anos, ela liderou campanhas de conscientização pública, além de atividades de limpeza e reflorestamento com a ajuda de milhares de voluntários.  

A jovem, que também formou uma parceria com o governo local, diz que a participação dos jovens é essencial nesta luta. 

“Jovens como eu têm dado um grande contributo, alertando para os altos níveis de poluição e a extinção acelerada das espécies importantes para manutenção dos ecossistemas. É por isso que o nosso projeto, denominado Otchiva, promove a proteção e restauração dos mangais, berçário de cerca de 80% da vida marinha, incluindo aves migratórias, como os flamingos, símbolo da minha cidade natal, Lobito, no litoral sul de Angola.” 

Secretário-geral

75% das novas doenças infecciosas são zoonóticas, passando dos animais aos humanos

Na abertura do encontro, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que “a humanidade está travando uma guerra contra a natureza.”

Mais de 60% dos recifes de coral do mundo estão ameaçados, populações de animais selvagens estão caindo  e taxa de extinção de espécies está se acelerando, com cerca de um milhão de espécies atualmente ameaçadas ou em perigo.

Para o chefe da ONU, “o desmatamento, as mudanças climáticas e a conversão de áreas selvagens para a produção de alimentos humanos estão destruindo a teia da vida na Terra.”

Lembrando a pandemia de Covid-19, Guterres afirmou que 60% de todas as doenças conhecidas e 75% das novas doenças infecciosas são zoonóticas, passando dos animais aos humanos.

Segundo ele, “a degradação da natureza não é apenas uma questão ambiental”, com consequências abrangendo economia, saúde, justiça social e direitos humanos.

O secretário-geral disse ainda que “é necessária uma ambição muito maior, não apenas dos governos, mas de todos os atores da sociedade.”

Relatório

Biodiversidade é essencial para sobrevivência humana, através de atividades como pesca
Biodiversidade é essencial para sobrevivência humana, através de atividades como pesca, by Seychelles Tourism Board/Ennio Maffei

O Panorama da Biodiversidade Global, publicado pela Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica, CBD, em 15 de setembro, aponta oito mudanças necessárias com urgência para garantir o bem-estar humano e salvar o planeta.

Segundo a pesquisa, a pandemia da Covid-19 desafia as pessoas a repensar sua relação com a natureza e a considerar as consequências da degradação dos ecossistemas.

O documento trata do progresso em relação às 20 Metas Globais de Biodiversidade, que foram acordadas em 2010 e deviam ser alcançadas até este ano. No total, seis delas foram parcialmente atingidas.

As oito mudanças destacadas incluem transição sustentável nas áreas de agricultura, sistemas alimentares, gerenciamento de pesca e oceanos, cidades e infraestrutura, sistemas de água doce, ação climática e para uma abordagem One Health, que usa várias disciplinas para alcançar a saúde de pessoas, animais e ambiente. 

Encontro 

O Encontro de Cupula tem o tema “Ação urgente sobre a biodiversidade para o desenvolvimento sustentável”. 

Em comunicado, o presidente da Assembleia Geral da ONU, Volkan Bozkir, disse que “é preciso transformar a biodiversidade em uma preocupação doméstica e uma questão política.” 

Em relação às 20 Metas Globais de Biodiversidade, que deviam ser alcançadas até este ano, seis delas foram parcialmente atingidas

Metas

Relatórios mostram que os esforços globais não conseguiram atingir nenhuma das 20 metas de biodiversidade estabelecidas pelos Estados-membros. 

Pesquisas recentes, no entanto, mostraram que ações sobre a biodiversidade podem trazer benefícios econômicos e sociais. 

Em locais onde a pesca foi regulamentada e relatada, por exemplo, os estoques de peixe melhoraram. Onde se desacelerou o desmatamento, a perda de habitat foi controlada. Restauração de ecossistemas, com apoio de populações locais, reverteram décadas de degradação.  

Para regenerar todos os recursos biológicos usados ​​pela humanidade entre 2011 a 2016, seriam necessários cerca de 1,7 planetas Terra. A mesmo tempo, os governos estão atribuindo US$ 500 bilhões em subsídios que causam danos ambientais. 

A pandemia COVID-19 também destacou a importância da relação entre as pessoas e a natureza. A destruição e degradação dos ecossistemas naturais aumenta o risco de propagação de doenças da vida selvagem.