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Pandemia reduziu em 90% chegadas de migrantes ao Iêmen desde fevereiro BR

Falta de financiamento para programas no Iêmen está colocando vidas em risco.
© Unicef
Falta de financiamento para programas no Iêmen está colocando vidas em risco.

Pandemia reduziu em 90% chegadas de migrantes ao Iêmen desde fevereiro

Paz e segurança

Organização Internacional para Migrações, OIM, informa que dezenas de milhares de etíopes que tentavam chegar à Arábia Saudita estão num limbo; o Iêmen é um grande destino de trânsito entre o Chifre da África e o Golfo Árabe; nesta quarta-feira, Conselho de Segurança debaterá conflito no Iêmen e situação da violência.

As Nações Unidas afirmaram que o Iêmen se tornou um país “extremamente inseguro” para os migrantes, nos últimos seis anos.

Em comunicado, divulgado na terça-feira, a representante da Agência Internacional para Migrações, OIM, no Iêmen, contou que a Covid-19 agravou ainda mais a situação. Segundo Christa Rottensteiner, muitos são usados como “bodes expiatórios” e acusados de transmitir o vírus.

Migrantes dormem em um prédio inacabado e abandonado na cidade de Aden, no Iêmen.
Migrantes dormem em um prédio inacabado e abandonado na cidade de Aden, no Iêmen. Foto: IOM/R. Ibrahim

Grande rota

Com a pandemia, a chegada de migrantes ao Iêmen caiu 90%, de fevereiro a junho. Dezenas de milhares de etíopes estão agora sem poder finalizar seus trajetos e encarando riscos no país. O Iêmen é considerado uma grande rota de migração entre o Chifre da África e o Golfo Árabe.

Pelo menos 14,5 mil pessoas nessa situação foram transferidas à força dentro do país e hoje estão sem poder sair de cidades como Áden e Saada.  A OIM estima que o número seja ainda mais alto.

No ano passado, a agência da ONU assistiu quase 60 mil migrantes com abrigo, serviços de saúde, kits de higiene, apoio psicossocial e retorno voluntário.

Mas segundo a OIM, a falta de financiamento para os seus programas está colocando vidas em risco. 

Menino iemenita na cidade de Saada.
PMA/Fares Khoailed
Menino iemenita na cidade de Saada.

Arábia Saudita

No ano passado, 138 mil migrantes saíram do Chifre da África para o Iêmen. A maioria é da Etiópia, através de Djibouti ou Somália. O plano é alcançar a Arábia Saudita em busca de emprego.

Com a pandemia, muitos migrantes passaram a ser alvos de discriminação, assédio e até abusos físicos. A situação levou a detenções e restrições de movimentos. Alguns migrantes sofrem violência e até tortura por parte de traficantes de seres humanos.

Um migrante etíope contou à OIM que teve seus pertences como dinheiro, roupas e sapatos roubados durante à noite, e que foi socorrido pelos iemenitas que lhe deram dinheiro para comprar água e comida. 

O Iêmen é uma das piores crises humanitárias do mundo, com 24 milhões de pessoas afetadas.
PMA/Jonathan Dumont
O Iêmen é uma das piores crises humanitárias do mundo, com 24 milhões de pessoas afetadas.

Conselho de Segurança

Ele ainda dorme ao relento sobre uma caixa de papelão e depende da ajuda das comunidades locais para sobreviver.

Um outro migrante disse que foi detido por traficantes de seres humanos durante dois meses. Ele foi torturado e a família dele na Etiópia foi alvo de extorsão. Ele conseguiu chegar a Sanaa, capital do Iêmen, mas depois foi transferido para Áden à força. A maioria desses migrantes dorme na rua enquanto tenta voltar à Etiópia.

O apelo da OIM de US$ 155 milhões para a crise no Iêmen só foi atendido pela metade. Sem fundos urgentes, mais de 2,5 milhões de iemenitas deslocados internos e migrantes terão de continuar lutando com as consequências de quase seis anos de conflito no país além da piora da situação causada pela epidemia. 

Nesta quarta-feira, o Conselho de Segurança discutirá a situação da violência e o conflito no Iêmen.