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Especial: Dr. Jarbas Barbosa fala sobre Covid-19 na América Latina BR

Vice-diretor da Organização Pan-Americana da Saúde, Jarbas Barbosa
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Vice-diretor da Organização Pan-Americana da Saúde, Jarbas Barbosa

Especial: Dr. Jarbas Barbosa fala sobre Covid-19 na América Latina

Saúde

Vice-diretor da Organização Pan-Americana da Saúde afirma que se testes correrem bem, mundo deverá ter vacina contra a Covid-19 já no próximo ano; para médico especializado em epidemiologia, isolamento social é a única forma de se evitar um aumento no número de casos.  Nesta entrevista à ONU News, ele fala sobre a situação no Brasil e em outros países latino-americanos, e diz que a OMS não recomenda nenhum remédio contra a doença no momento.
 

Que medidas específicas que o Brasil deve tomar para reduzir o número de casos?
 

O Brasil, assim como vários outros países na América Latina, nesse momento, como Peru, Equador, Chile, México estão experimentando um crescimento muito rápido no número de casos. Nessa situação, a única medida capaz de frear e reduzir a velocidade de transmissão é o distanciamento social. Seguramente, que em cada estado do Brasil, essa realidade pode ser um pouco diferente.  Por isso é importante uma análise criteriosa do número de casos novos, que estão acontecendo todos os dias, monitorar também a ocupação dos leitos da UTI, uso de respiradores mecânicos, porque se se deixa a transmissão ocorrer de maneira natural, sem nenhum tipo de redução da velocidade, o número de casos que é produzido vai superar a capacidade dos leitos de UIT, de respiradores e pessoas vão morrer. Isso é muito importante, este monitoramento. Tomar as medidas adequadas. Se o distanciamento social não está funcionando, verificar como se pode aumentar a adesão da população para que se consiga diminuir esta velocidade o mais rápido possível.

Médico da Opas diz que Brasil deve intensificar isolamento social para conter pandemia

 
Tendo em conta, a evolução da pandemia no Brasil, quando acredita que a curva deve começar a baixar?

Nós trabalhamos com modelos matemáticos, mas esses modelos têm a finalidade apenas de servir para o planejamento do número de leitos necessários, da quantidade dos profissionais de saúde e o número de respiradores mecânicos. Com base nesses modelos, se estima que essa transmissão mais forte vai continuar até a primeira semana de junho. Mas isso depende, claro, do sucesso das medidas de distanciamento social. Particularmente, nós da Organização Pan-Americana da Saúde, estamos prestando apoio técnico ao Ministério da Saúde do Brasil exatamente para que essas medidas sejam mais efetivas, que a gente consiga reduzir a velocidade de transmissão e sair o mais rápido possível desse momento intenso de transmissão que alguns estados do Brasil passam.
 

Medidas de saúde pública que ajudaram a conter surtos anteriores incluem o confinamento
Diogo Moreira/Governo de Sao Paulo
Medidas de saúde pública que ajudaram a conter surtos anteriores incluem o confinamento

 

Quais os principais desafios para assentamentos informais, comunidades pobres e favelas (na prevenção e tratamento)?

Os desafios para quem vive em favelas são imensos. Primeiro: a aglomeração. Nós temos, muitas vezes, famílias grandes, de 6, 7, 8 pessoas vivendo em um local, uma casa pequena. As próprias ruas, as calçadas, tudo em favelas leva a uma aglomeração muito grande de pessoas. Segundo, em que várias dessas favelas, o acesso à água para lavar as mãos, por exemplo, que é uma medida fundamental da prevenção da transmissão é difícil. Além disso, essas pessoas sentem uma carga maior na dificuldade econômica produzida pela pandemia. Por isso, é muito importante que os governos tomem medidas de ampliar a rede de proteção social e auxílio econômico para que essas famílias tenham condição de sobreviver nesse período tão difícil. Aumentem o acesso de água para essas comunidades, instalem estações com água e sabão para lavar as mãos, distribuam álcool gel. Coloquem equipamentos públicos que não estão em utilização, nesse momento, como escolas, como quadras de esporte, como centros comunitários, como locais para produzir um isolamento das pessoas com quadros leves em condições adequadas com supervisão das equipes de saúde da família. Ou seja, é necessário tomar medidas específicas para atender essa população porque elas podem ter uma carga maior de transmissão e da produção de casos graves.

Chefe da Opas disse que qualquer decisão deve ser baseada em dados sobre novos casos, número de mortes e a capacidade de leitos em hospitais.
ONU/Argentina
Chefe da Opas disse que qualquer decisão deve ser baseada em dados sobre novos casos, número de mortes e a capacidade de leitos em hospitais.

 

A Opas ou a OMS recomendam algum tipo de medicamento ou tratamento? E quando ficará pronta uma vacina?

A Organização Mundial da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde, nesse momento, ainda não recomendam nenhum medicamento específico porque ainda não há evidências de que nenhum medicamento tenha uma ação benéfica para reduzir a gravidade dos casos de Covid-19.  Há vários estudos em andamento inclusive um grande estudo coordenado pela Organização Mundial da Saúde que vários países da América Latina e do Caribe estão participando. O Solidarity Trial inclusive do Brasil há hospitais e instituições participando. Até termos uma evidência científica que algum medicamento traz benefícios para quem toma, em relação direta com o Covid-19, o uso de qualquer um desses medicamentos deve ser realizado dentro de princípios éticos para medicamentos experimentais. Ou seja, com o médico informando à família que está usando um medicamento que não há comprovação de benefícios, quais são os riscos, quais são os eventos adversos que podem ocorrer e tomando o consentimento da família.   Essas são  regras gerais de uso de medicamento ainda na fase experimental. Em relação às vacinas, nós estamos com vários projetos em andamento.

Em relação às vacinas, nós estamos com vários projetos em andamento. Alguns deles já terminaram a fase um, de ensaio, ou seja, que comprova a segurança desses projetos de vacina, vão entrar em fase 2, depois tem a fase 3.

Alguns deles já terminaram a fase um, de ensaio, ou seja, que comprova a segurança desses projetos de vacina, vão entrar em fase 2, depois tem a fase 3. A participação solidária de vários países ajuda a recrutar mais voluntários para esses ensaios clínicos. Por isso, a Organização Mundial da Saúde lançou também uma plataforma, onde se pode fazer o alistamento mais rápido de voluntários para esses testes. Nós acreditamos que é possível, se todos os testes confirmarem que uma determinada vacina é segura e eficaz, nós poderemos ter já em 2021, talvez, uma vacina já pronta para ser fabricada. Uma das questões importantes para a Organização Pan-Americana da Saúde é que quando haja uma vacina, o acesso a ela seja realizado de maneira equitativa. Ou seja, que nós não tenhamos países ricos tendo acesso à vacina enquanto países em desenvolvimento não terão esse acesso e deixarão de proteger, principalmente, aqueles grupos populacionais mais vulneráveis com uma vacina, então o acesso equitativo é muito importante para a Opas.