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Um ano após Idai, especialista diz que ciclones podem se tornar mais intensos BR

Moçambique é o terceiro país africano mais vulnerável a desastres naturais ocorrido no caso de chuvas de grande proporção que provoquem risco de inundações.
ONU Moçambique
Moçambique é o terceiro país africano mais vulnerável a desastres naturais ocorrido no caso de chuvas de grande proporção que provoquem risco de inundações.

Um ano após Idai, especialista diz que ciclones podem se tornar mais intensos

Clima e Meio Ambiente

Diretor da Rede Global para Serviços Climáticos da Organização Meteorológica Mundial, Filipe Lúcio, falou à ONU News, de Genebra, sobre mudança climática. Ciclones tropicais também devem surgir em novas áreas.

 

O diretor da Rede Global para Serviços Climáticos da Organização Meteorológica Mundial, OMM, disse que a mudança climática cria as condições necessárias para a ocorrência de ciclones tropicais com maior intensidade.

Em entrevista à ONU News, de Genebra, Filipe Lúcio lembrou o caso do ciclone tropical Idai, que há um ano, atingiu o centro de Moçambique causando a morte de 600 pessoas.

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Secas, como a que atinge Angola, são uma das grandes causas do aumento da insegurança alimentar, Unicef Angola/2019/Carlos César

Ciclones

“Por causa do oceano ser onde se concentra a maior parte do aquecimento, mais de 80% do aquecimento global, temos um oceano mais quente, que, por consequência, cria condições para ocorrência dos ciclones tropicais com maior intensidade.”

Além destes fenômenos se tornarem mais fortes, Filipe Lúcio afirmou que também devem “continuar a atingir áreas para além das zonas tropicais, onde anteriormente não era muito comum a sua ocorrência.”

Na terça-feira, a OMM publicou um relatório que mostra as consequências da mudança climática em todo o mundo, como aumento da temperatura, subida do nível dos oceanos e derretimento do gelo.

Consequências

Segundo Filipe Lúcio, o aquecimento global deve provocar um aumento de mortes, doenças e fome no planeta. Ele lembrou que o número de pessoas que enfrenta insegurança alimentar caiu entre 2005 e 2015, mas essa tendência inverteu-se nos últimos quatro anos.

“Esse aumento é maioritariamente atribuído a ocorrência de eventos extremos, particularmente casos de seca. A continuarmos com esses níveis de emissão, a continuarmos a observar o aumento da temperatura, estaremos perante uma situação em que teremos mais fome, porque teremos a ocorrência de fenômenos extremos e um aumento da população.”

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Combate

O ano de 2019 terminou com uma temperatura média global de 1.1 ° C acima dos níveis pré-industriais, colocando em risco as metas de 1.5 ° C ou até 2 ° C que o Acordo de Paris exige. O especialista destacou o que as pessoas e os governos de todo o mundo podem fazer para combater esta ameaça.

“Primeiro, temos o Acordo de Paris, que é o instrumento que cria mecanismos para que os países possam estabelecer limites para reduzir os efeitos de gases de estufa. Seria importante que os países aumentassem a sua ambição. Se a sociedade não conseguir atingir os níveis de neutralidade até 2050, estaremos numa situação em que o aumento de temperatura será superior a 3 ° C. Por outro lado, em nível individual é importantíssimo que adotemos comportamentos que reduzam a emissão dos gases.”

O relatório da OMM informa que as concentrações de gases de efeito estufa estão nos níveis mais altos em 3 milhões de anos.

O aquecimento dos oceanos também está num nível recorde, com temperaturas subindo no equivalente a cinco bombas de Hiroshima por segundo.

Segundo a pesquisa, o quinquénio 2015-2019 foi o mais quente da história, e o mesmo ocorreu na década passada. Desde a década de 1980, cada década tem sido mais quente do que qualquer década anterior desde 1850.