ESPECIAL: Mundo deixa Nairóbi com foco renovado para melhorar vidas
Evento que celebrou 25 anos da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento do Cairo terminou esta quinta-feira; ONU News falou com lusófonos que regressam para casa depois de encontro que juntou mais de 100 países*.
Salvar milhões de vidas e dar mais poder às mulheres foram temas que juntaram o mundo em Nairóbi, no Quênia, esta semana.
O encontro de cúpula marcando 25 anos da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento do Cairo, Icpd25, terminou esta quinta-feira com 1,2 mil compromissos. Entre eles, há promessas de parcerias dos setores público e privado que foram testemunhadas por milhares de participantes de mais de 100 países.
Inclusão
Para muitos, a cidade queniana serviu de modelo para uma situação que seria ideal. Comunidades, ativistas e jovens interagiram com políticos em prol da inclusão, discutindo temas como direitos e saúde para todos.
A brasileira Elaine Neuenfeldt representou a ONG ACTAlliance, que promove valores religiosos. Ela vive em Genebra e falou à ONU News sobre a sua participação representando organizações baseadas na fé.
“Essa conferência, para mim, significa um retomar da agenda de direitos das mulheres e da justiça de gênero. E especificamente, retomar dentro de uma perspectiva progressista.”
De São Tomé e Príncipe, Iracema Carvalho representou a Associação de Redes Juvenis. Ela destacou que ainda há falta de respostas para questões sobre este grupo.
Conhecimento
“Há muitas crianças e adolescentes que ainda têm estado a engravidar durante seu percurso e nós procuramos mais conhecimentos de forma a buscar como os sensibilizar, de facto e como é que elas podem se engajar.”
Políticos e líderes de opinião citaram desafios de áreas remotas, onde muitas vezes atua a embaixadora de Boa Vontade do Fundo da ONU para a População, Unfpa, Catarina Furtado. Para a atriz portuguesa, é preciso arregaçar as mangas e ir ao terreno para conseguir mudanças e acabar com riscos de vida enfrentados por mulheres.
“Desde o Haiti, Sudão do Sul, Mocambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Índia, Bangladesh, Líbano...E agora acabei de vir da Grécia, um país da Europa, onde as questões de refugiados estão ainda difícies de resolver, antes pelo contrário.”
A ONU News ouviu como vários participantes viveram este encontro global tendo em mira uma transformação e um impacto real em milhões de vidas.
A ministra da Saúde da Guiné-Bissau, Magda Robalo, falou sobre a esperança que encontra no seu país, onde a população jovem chega a 60%. Segundo ela, isso não distrai as autoridades guineenses dos desafios sobre a população e o desenvolvimento.
“A saúde materna continua continua bastante elevada. A prevalência da mutilação genital feminina que continua a ser bastante elevada.”
Motivação
Para as Nações Unidas, o que aconteceu no encontro de cúpula desta semana afetará o mundo inteiro e pode ajudar a avançar em metas de saúde e direitos sexuais e reprodutivos.
A representante do Unfpa em Moçambique, Andrea Wojnar, disse que o entusiasmo e as posições otimistas devem continuar depois de Nairóbi.
“Dá-nos muito encorajamento, porque temos a sociedade civil, governos de todo o mundo, temos jovens, companhias privadas, parlamentares e todos os setores da sociedade necessários para um bom envolvimento sustentável.”
Para impedir a morte de mães durante o parto, atender necessidades de planejamento familiar e acabar com a violência contra as mulheres na próxima década são precisos US$ 222 bilhões.
Troca de experiências
Depois das experiências trocadas em Nairóbi, os participantes regressam a casa com um foco renovado para enfrentar os desafios.
Cada país, organização ou representante teve contato com compromissos políticos ou financeiros sobre saúde sexual e reprodutiva e direitos das mulheres e meninas.
De volta a Angola, a representante do Unfpa no país, Florbela Fernandes, disse que não deve haver ilusões na ação global que deve acontecer.
“Um dos prismas que apresentaram é que é preciso acelerar o passo. São 25 anos de Cairo e todos estamos certos que é preciso ser mais dinâmicos. E é preciso fazer muito mais usando a criatividade e usando a inovação.”
Uma nota da diretora executiva do Unfpa, Natalia Kanem, destaca que a conferência de Nairóbi é uma visão renovada dos compromissos assumidos no Cairo em 1994.
A próxima década será de teste para a ação e os resultados em prol dos direitos de mulheres e meninas como preveem as metas da Icpd25, alinhada à Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável.
*Reportagem - enviado especial, Ouri Pota.