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Mais de mil migrantes já morreram atravessando o Mediterrâneo em 2019

Pela lei internacional do mar, os países têm o dever de proteger os indivíduos em perigo mesmo que a embarcação não esteja na jurisdição do país
Frontex/Francesco Malavolta
Pela lei internacional do mar, os países têm o dever de proteger os indivíduos em perigo mesmo que a embarcação não esteja na jurisdição do país

Mais de mil migrantes já morreram atravessando o Mediterrâneo em 2019

Migrantes e refugiados

Em seis anos, pelo menos 15 mil pessoas perderam a vida tentando travessia; Agência da ONU para Refugiados alertou para situação perigosa nas ilhas gregas; mais de 100 mil migrantes permanecem vulneráveis na Líbia.

Pelo menos mil migrantes já morreram em 2019 tentando atravessar o Mediterrâneo, marcando o sexto ano em que isso acontece. Desde 2014, mais de 15 mil pessoas perderam a vida tentando a travessia.

A informação foi confirmada pela Organização Internacional para as Migrações, OIM. A agência confirmou a morte de 994 pessoas e está verificando relatos de 40 vítimas fatais num naufrágio na costa do Marrocos no último fim-de-semana.

Mil migrantes já morreram em 2019 tentando atravessar o Mediterrâneo

Hostilidade

Em nota, o porta-voz da OIM, Leonard Doyle, disse que “durante uma onda crescente de antimigração na política de todo o mundo, esse número chocante deve-se, em certa medida, a uma atitude de hostilidade total a migrantes que fogem da violência e da pobreza.”

Para o porta-voz, “essa carnificina no mar” deve envergonhar todas as pessoas.

Segurança

Apesar de trágicos, a OIM aponta que os números são os mais baixos desde 2014. A agência diz que os registros caíram porque menos pessoas tentam atravessar, não porque o trajeto esteja mais seguro.

A travessia do Mar Mediterrâneo continua sendo a rota de migração mais mortal no mundo. Segundo a OIM, “alternativas seguras são urgentemente necessárias para os migrantes que buscam uma vida melhor.”

O centro de Moria, em Lesbos, ultrapassou em cinco vezes sua capacidade.
© Acnur/Gordon Welters
O centro de Moria, em Lesbos, ultrapassou em cinco vezes sua capacidade.

Grécia

Também esta terça-feira, a Agência da ONU para Refugiados, Acnur, pediu que a Grécia faça a transferência de milhares de migrantes das ilhas Egeias para locais mais seguros.

Segundo a agência, estes migrantes estão em “centros de recepção superlotados.” Em setembro, as ilhas receberam 10,258 novos migrantes, especialmente de famílias afegãs e sírias. Esse é o maior número desde 2016.

Em 2019, a Grécia registrou a maior parte das chegadas na região do Mediterrâneo. De um total de 77,4 mil migrantes, o país acolheu 45,6 mil pessoas, mais do que Espanha, Itália, Malta e Chipre juntos.

Nesse momento, mais de 30 mil migrantes estão vivendo nas ilhas gregas. Para o Acnur, “o apoio da União Europeia é crucial.”

Uma família síria de Idlib que chegou recentemente a Lesbos, na Grécia, se refugia no centro de recepção de Moria.
© Acnur/Gordon Welters
Uma família síria de Idlib que chegou recentemente a Lesbos, na Grécia, se refugia no centro de recepção de Moria.

Condições

A situação nas ilhas de Lesbos, Samos e Kos é considerada crítica. O centro de Moria, em Lesbos, ultrapassou em cinco vezes sua capacidade. Em um assentamento informal próximo, 100 pessoas compartilham um único banheiro.

Os migrantes começaram protestando essas condições. O Acnur afirma que “as tensões continuam altas em Moria”, onde um incêndio no domingo acabou matando uma mulher e houve confrontos com a polícia.

Em Samos, o centro de recepção Vathy abriga oito vezes sua capacidade. Em Kos, 3 mil pessoas estão vivendo em um local com capacidade para 700.

Resposta

O Acnur afirma que “manter as pessoas nessas condições inadequadas e inseguras é desumano e deve chegar ao fim.”

A agência elogia o governo grego, que está tentando aliviar a pressão sobre as ilhas, acelerando os procedimentos de asilo.

A Agência afirma, no entanto, que “são necessárias medidas urgentes”, como acelerar os planos de transferência de mais de 5 mil solicitantes de asilo já autorizados e criação de novos locais de acomodação. 

O Acnur também alerta para a “situação difícil” das crianças desacompanhadas. Existem mais de 4,4 mil menores nessa situação e apenas 25% está em um abrigo apropriado para a idade.

As consequências do ataque aéreo devastador no Centro de Detenção Tajoura, na capital da Líbia, Trípoli, em 2 de julho.
OIM/Moad Laswed
As consequências do ataque aéreo devastador no Centro de Detenção Tajoura, na capital da Líbia, Trípoli, em 2 de julho.

Líbia

Na Líbia, a OIM continua pedindo o encerramento do centro de detenção de Tajoura, onde 53 migrantes morreram em junho durante um ataque aéreo.

O chefe da missão da OIM na Líbia, Federico Soda, disse que os planos do governo para fechar este e outros dois centros são bem-vindos, mas “precisam ser concretizados para evitar que tragédias aconteçam novamente.”

A agência continua ajudando migrantes no país que queiram regressar a seus países de forma voluntaria. Desde 2015, mais de 47 mil pessoas já foram ajudadas.

Em 2019, mais de 6,2 mil migrantes foram resgatados no mar e retornados à Líbia. Muitos foram colocados em detenção arbitrária e outros foram libertados em áreas onde perdura o conflito armado. Segundo a OIM, mais de 100 mil migrantes no país permanecem vulneráveis, correndo o risco de sequestro e tráfico.