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Unicef: relatório aponta 10 países com maiores taxas de mortalidade infantil

Nos países em desenvolvimento, a média de mortalidade neonatal é de 27 mortes por cada mil nascimentos.
Unicef/Chute
Nos países em desenvolvimento, a média de mortalidade neonatal é de 27 mortes por cada mil nascimentos.

Unicef: relatório aponta 10 países com maiores taxas de mortalidade infantil

Saúde

Documento diz que o mundo está a falhar nessa área; crianças que nascem nos países mais desfavorecidos têm 50 vezes mais chance de morrer no primeiro mês do que os que vêm ao mundo em nações desenvolvidas; Guiné-Bissau é único lusófono na lista.

Alexandre Soares, da ONU News em Nova Iorque.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, divulgou um relatório sobre os piores níveis de mortalidade infantil no mundo. A lista contém 10 países.* O único de língua portuguesa é a Guiné-Bissau, que aparece em sexta posição. Ali, uma em cada 26 crianças morre no primeiro mês de vida.

O documento revela que o número global de mortes de recém-nascidos continua a ser demasiado elevado, sobretudo mais pobres.

Comunidades

Bebés nascidos no Japão, na Islândia e em Cingapura têm as melhores probabilidades de sobrevivência.r das mulheres e dos bebês.
Bebés nascidos no Japão, na Islândia e em Cingapura têm as melhores probabilidades de sobrevivência.r das mulheres e dos bebês., by Unicef/Ilvy Njiokiktjien

O especialista em cuidados de saúde primários do Unicef na Guiné-Bissau, Fernando Menezes, disse à ONU News, de Bissau, que estes números têm duas explicações: primeiro, mais de metade dos partos acontecerem fora dos hospitais; depois, os centros de saúde têm falta de recursos humanos e materiais.

Menezes diz que o país está a trabalhar com as comunidades para lhes dar formação sobre os cuidados a ter durante o parto e imediatamente após o nascimento.

“A nível comunitário, trabalhar com um grupo de mães, sensibilizar, porque muitas vezes os partos acontecem com as parteiras tradicionais, os parentes. Portanto, dar-lhes orientações sobre o que deve ser feito logo nos primeiros momentos. Os pequenos atos essenciais não são feitos. Um recém-nascido que não é secado rapidamente, não há contato pele a pele com a mãe, não há amamentação exclusiva. Devemos fazer uma formação a nível da maternidade com todo o pessoal que lá está, é essa a nossa prioridade”.

O especialista diz que o Unicef está a trabalhar com o Ministério da Saúde do país para corrigir a segunda causa deste problema, a falta de recursos nos hospitais.

“Desde 2016, o país, juntamente com o Ministério da Saúde, consciente desta situação, tem trabalhado com a assistência técnica do Unicef. Foi elaborado um plano de ação a cinco anos.”

Em 2017, cerca de 1 milhão de bebês morreram no dia em que nasceram e 2,5 milhões no primeiro mês de vida.

Fernando Menezes explica que o plano foca-se numa intervenção nas estruturas dos serviços de maternidade, cobrindo todas as regiões do país, bem como na formação dos profissionais de saúde.

Desigualdade

A diretora-executiva do Unicef, Henrietta H. Fore, disse que o mundo reduziu para mais de metade o número de mortes entre crianças com menos de cinco anos, mas não avançou com os bebés que morrem no primeiro mês de vida.”

Fore disse que “a maioria destas mortes é evitável”, por isso o mundo “está a falhar para com os bebés mais pobres.”

Nos países em desenvolvimento, a média de mortalidade neonatal é de 27 mortes por cada mil nascimentos. Já nos países desenvolvidos, essa taxa é de apenas três mortes por cada mil.

Segundo o relatório, nos locais mais inseguros do mundo as crianças têm 50 vezes mais probabilidades de morrer se comparadas aos recém-nascidos dos locais mais seguros.

Prevenção

O documento diz que as principais causas de morte, como nascimento prematuro, complicações durante o parto ou infecções, podem ser evitadas, mas a falta de pessoal qualificado é um grande obstáculo.

Campanha do Unicef pretende exigir e apresentar soluções para os recém-nascidos de todo o mundo.
Campanha do Unicef pretende exigir e apresentar soluções para os recém-nascidos de todo o mundo., by Unicef/Rosenda Quintos

Na Noruega, por exemplo, existem 218 médicos, enfermeiros e parteiras para prestar assistência a cada 10 mil pessoas. Na Somália, existe apenas um único profissional para o mesmo número de pessoas.

Os bebés nascidos no Japão, na Islândia e em Cingapura têm as melhores probabilidades de sobrevivência.** Já os que nascem no Paquistão, na República Centro-Africana e no Afeganistão são os que mais obstáculos enfrentam.

Este mês, o Unicef lança a campanha “Todas as VIDAS contam”. A iniciativa pretende exigir e apresentar soluções para os recém-nascidos de todo o mundo.

*A lista inclui: Paquistão, República Centro-Africana, Afeganistão, Somália, Lesoto, Guiné-Bissau, Sudão do Sul, Cote d’Ivoire também conhecida como Costa do Marfim, Mali e Chade.

**Lista dos melhores países para nascer: Japão, Islândia, Cingapura, Finlândia, Estónia, Eslóvenia, Chipre, Belarus, República da Coreia, Noruega, Luxemburgo.

Primeiros bebês de 2019